sábado, dezembro 29, 2007

2008


O ano vai acabar... sensivelmente na mesma como o ano passado. E o outro... e os outros todos...


Não é que nada aconteça. Nada disso. De facto, nos últimos 50 anos muito mudou por este planeta redondo, ligeiramente achatado nos polos.


E todos os anos, nós, a espécie dominante (ao menos no sentido reprodutivo/poluidor) no preocupamos em abrir garrafas de espumoso, contar as passas e engoli-las num desafio à imaginação pedinchativa e desejando melhoras e sucessos para o ano que desponta!


É um momento bonito que estou a pensar repetir... ao menos para manter a tradição que, no fundo, ainda é o que nos salva!


O Mundo é grande. A esta hora muita gente dorme, muitos trabalham... outros nem tanto.

Há gente que festeja mil e uma coisas, gente que ri, gente que chora.

Há sonhos que se realizam, vontades que fracassam, gente que nasce e gente que morre.


O Mundo é um complexo mistério onde um dos maiores enigmas é cada um de nós.

Muitos entretêm-se no desafio do consumo insustentável enquanto tantos, mesmo muitos outros, se esforçam apenas por sobreviver em cada dia que passa.

Enigmas multiplicados por biliões de gente, por vontades díspares, por ódios difíceis de explicar, por paixões doentias... por compulsões terríveis.


E somos uma espécie pensante! Capaz de acumular experiência, de compreender a História...

Mas nem por isso capaz de evitar eternizar os erros...


E assim... porque esta Humanidade é pouco aconselhável quando vista no seu conjunto... e porque nunca se muda o todo pelo simples gesto de estalar os dedos... em 2008 vou tentar concentrar-me em mudar a parte que está ao meu alcance... eu mesmo!

sexta-feira, setembro 21, 2007







O País anda meio deprimidote!


Anda cabisbaixo!

Falta-nos chama.

Razões de contentamento!

Anda baralhado de todo!

Já nem sabemos se a bola é redonda!

Perdemos a compostura... trocamos os papeis... caimos em tentações sem sentido... roubamos o martelo ao juíz.

E... já não nos bastavam os empates da selecção de todos nós que tornam a selecção exactamente como todos nós... ainda partimos para a desgraça!

Que um murro falhado é pior que um murro!

É assim como um coito interrompido!

Um coito surpreeendido entre a vontade e falta de pontaria (ou a destreza do ameaçado)



É que nem sabemos ser pequenos... ser orgulhosos da nossa vocação de David contra Golias!

Porque a grandeza maior de ser pequeno é ser melhor! Melhor que sempre! Sempre melhor que ontem!

Mesmo que seja na derrota ou no empate, saber cair de pé!

E... claro que andamos deprimidos!

E, talvez com receio por depressões maiores... algumas cabeças brilhantes do nosso universo televisivo entendem que a selecção de raguebi não merece um canal aberto!

Porque só pode perder... apesar do orgulho de cair em pé.









De gritar o Hino e disfrutar da festa de ter chegado lá!

E... ironia das ironias... não é que esta bola nem redonda é?!





sexta-feira, agosto 03, 2007


Fico doente com esta estória de ver Portugal a arder...

É o sinal mais que claro que este País é de palha!
Que este País não tem solução à vista!

Um País onde todos sabem o porquê das coisas e onde todos enterram a cabeça na areia durante 9 meses enquanto nos 3 restantes se assobia para o ar, com os pés na água do mar com o País profundo a consumir-se em chamas.

É o fado dos bombeiros em correrias desenfreadas para evitar que arda hoje a floresta que arderá amanhã.
É o fado das teorias sobre a reflorestação, sempre anunciada e todos os dias adiada para quando não for mais que "florestação".

É o fado dos culpados e das vítimas...
Dos que perderam tudo por terem tudo nos locais mais inimagináveis!

A guerra das celuloses contra os parques nacionais...
A guerra da construção sem ordem contra os PDM's e as áreas protegidas.

São os lobbys dos materiais de combate ao fogo, de aviões de aluguer contra a limpeza das matas, os planos de protecção ambiental...

E outros interesses... muitos e mesquinhos... de gente que gosta de ver arder...

Portugal tem uma especialidade: Assassinar galinhas de ovos de ouro!

Quando não houver mais nada para arder... nem o lixo que fazemos... pode ser! Pode ser que Portugal seja possível!

domingo, julho 15, 2007

Uma nêspera

estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece

às nêsperas

que ficam deitadas

caladas

a esperar

o que acontece



MÁRIO-HENRIQUE LEIRIA
Escritor: 1923 – 1980

Porque acreditar vale sempre a pena!

Porque não podemos nunca baixar os braços!

É por isso que eu acredito que vale sempre a pena votar!
Votar é também resistir!

Podem-me comer... mas resistirei sempre!

Em Lisboa, hoje, muitos optaram por desistir e ficaram, provavelmente deitados, à espera da velha gulosa...

Enquanto sentir que tenho sumo... recuso-me a ficar deitado!

Mesmo que me chamem... ovelha negra!

sábado, julho 07, 2007




Os grilos... são animais proféticos!




Digo isto no calor da noite (duma noite trivial, claro, que não da outra) e não deixo de visionar a frase, a frase bombástica com que saí das trevas...




Dizia então um Amigo (por acaso grande): vai tocar punhetas a grilos...
Ai o Norte!


Ai o Norte... Porra!

Onde... mas onde, neste país profundo... alguém se lembraria de tal?!

Nos Algarves, no reino deles...

um grilo é um grilo... PONTO!!!!

Mas aqui... a Norte... um grilo vale pelo potencial que tem!

E Portugal, este país improvável, está na área do prazer dos grilos!

Anda cada um a satisfazer-se a si próprio!




É que nem há combíbio

sábado, junho 23, 2007

É muito provável que eu hoje até tenha acordado mal disposto. É provável!
Até também é possível que a crise, insistente e desagradável, me ande a dar cabo do feitio... e eu até sou um tipo optimista!

Eu até tenho alguma paciência...

Compreendo os impostos. Os que temos e os que poderemos ter que vir a ter... e percebo que os desmandos do passado tenham custos no futuro.

Até me estou nas tintas para os títulos do Sr. Primeiro Ministro. Eu nem voto em Engenheiros, nem Doutores (ou Dr.'s que seja)...

Eu voto mesmo é em projectos (devo ser parvo, pelo que vejo...).

Nem concordo com OTA's nem TGV's, mas consigo perceber a necessidade de obra pública (mesmo quando, como sempre, para servir os do costume).
Mas hoje, depois de uma breve incursão no blog Portugal Profundo (http://doportugalprofundo.blogspot.com/) estragou-se-me o dia!

Para além do pormenor do brilhantismo do texto em si... fiquei com um estranho sabor a 24 de Abril na boca...

Mas... sejamos positivos!

Obrigado Sr. Engenheiro por fazer compreender aos nossos filhos a importância da Liberdade!
Obrigado Sr. Engenheiro por não deixar esquecer a alegria de poder ter opinião!

Gostaria de lhe dizer que, como V.Exa. eu também sou militante socialista! (e por acaso... sem complexos mal resolvidos, gosto de ser socialista, muito mais que ser PS).

Pois Sou!

E é por isso, fundamentalmente por isso... que tenho que lhe dizer:


Conheço bestas mais civilizadas... e nem precisam de dizer que são Engenheiros!
E, já agora, porque não cheguei a perceber... o Sr. Primeiro Ministro é mesmo Engenheiro?
Não precisa de se irritar comigo... é apenas porque eu tenho andado com mais dificuldades de compreensão...

sexta-feira, junho 15, 2007


O PP anda desvairado!


Louco!


Dizia hoje a TSF (a tal de rádio jornal) que há bronca lá pelo "caldas".

Que a gente do partido do Paulo Portas (o PP - ex CDS) andou a à cata de fundos em buracos fundos...


E, pelos vistos, anda de mão estendida em busca de contribuíções capazes de manter viva a velha máquina partidária em locais de pouca ou nenhuma conveniência...


Sabe-se que não é por ser popular que o dinheiro abunda.

Aliás, melhor fariam em ser mais burgueses, já que o povo anda na fase da folha de parra e pouca uva.


Mas... tenham dó!


Pedir dinheiro a gente que se assina "Jacinto Leite Capelo Rego"?!


Parece-lhes bem?


O País virou-se para as piadas de mau gosto.

Foi uma moda que começou com um ministro PSD e uma piada sobre alumínios em terras alentejanas...

Teve outro momento alto nas graçolas sobre o deserto da margem sul...


E agora, sublime momento de humor, alguém com uma paixão pelo partido, capaz de contrubuir de forma expressiva com uns euritos, lembra-se de contribuir sob pseudónimo, quiçá pensando no líder!



É que nem nos tempos em que o Herman tinha Graça!


Se eu fosse o dono da tasca, não tinha dúvidas. Mandava o artista ao tal sítio!

sexta-feira, maio 25, 2007



Mário Lino habilita-se a ter que fazer uma travessia no deserto...


Porque, honra lhe seja feita, é o tipo de Engenheiro capaz de "secar uma figueira"!


Para já, antecipando-se de forma dramática ao aquecimento global, acaba de secar 1/3 do território Nacional


Mas como é possível tanta alarvidade?!


Como é possível tentar tapar o sol com uma peneira tão esburacada?!


O Homem habilita-se a ficar conhecido nas reuniões do conselho de ministros como o "Areias".


O artista que conseguiu transformar um caso sério de cegueira nacional (a OTA) numa anedota da política de trazer por casa.


O Aeroporto da OTA é um caso de investigação burlesca-policial.


Um caso de desespero público ao serviço dos empreiteiros privados.


É um caso em que vale tudo!


A somar à febre camelística do ministro, junta-se nas últimas horas o pânico dromedário de possíveis atentados à ponte Vasco da gama!


Tenham dó!


Eu já percebi tudo!


Como a margem sul assumiu o estatuto de deserto... o governo já antecipa a ocupação pelas tribos nómadas do norte de àfrica, com bombas e tudo!


Camelos, está visto... já tem!

Agora... é só começar a preparar a anexação ao reino de Marrocos!

Inshalá!



sábado, maio 19, 2007

dois temas...

Hoje é dia de dois post's... melhor dizendo, de um post com dois temas...

Pois é! Não há fome que não dê fartura!

O primeiro é uma homenagem à minha gata Gabi que hoje decidiu ser Mãe!

E é sempre lindo ter gatinhos novos cá por casa.



Mas lindo, mesmo lindo é ver que a Gabi, uma pequena gata tricolor, teve dois filhotes... um amarelo e uma quase toda preta... e dá de mamar feliz aos dois, sem se preocupar com preconceitos primários baseados em coisas estúpidas como a cor do pêlo.
Nem quer saber quem são os Pais... se um é ariano ou se o outro tem o ADN dos fundadores da espécie...



Mas... se calhar é apenas porque não passa de uma Gata feliz!
.
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.
.

.
.


O segundo assunto tem a ver com aquela questão primária das paixões clubísticas.
Amanhã é dia de fim de campeonato!


Amanhã é o dia em que o meu Porto vai ter de provar que, como sempre, tem obrigação de ganhar!


Até pode ser que os clubes da segunda circular decidam perder os seus últimos jogos... ou não... que importa?!


Até pode ser...




Mas o Porto, porque tem o melhor conjunto de jogadores, apesar de não ter sido a melhor equipa, vai ter de provar que a força do Campeão continua a Norte.



Mais nada!




Porque tudo reside nisso mesmo... na força da nossa vontade de ganhar!

sexta-feira, maio 18, 2007

O refinado preguiçoso...

Dizem que este blog é uma espécie de marasmo...
... e eu até concordo!
Eu sei que isto tem andado meio parado (é a chamada teoria da garrafa meio cheia meio vazia a falar por mim) e a verdade é que até seria politicamente correcto vir para aqui com as tradicionais desculpas da falta de tempo, do trabalho em demasia, da falta de pachorra...
Mas... nada disso!
O que se passa é que o autor deste blog é um refinado preguiçoso!
Que apenas escreve quando não tem alternativa!
Que apenas escreve em datas muito especiais ou quando pressionado por posições mais críticas para os seus ideais profundos.
É um fulano que precisa de combate... de um murro de quando em quando, para acordar estremunhado e desatar a defender aquilo em que acredita!
Precisa de combates estimulantes e civilizados, de ferroadas críticas e elevadas para levantar a moral.
Descutiram-se aqui temáticas interessantes... é certo!
E assim a título de exemplo recordo as presidenciais, a co-incineração, o aborto, as drogas...
Mas a preguiça insiste em atacar e eis que chegam as tradicionais desculpas...
Só falta dizer que não acontece nada de novo!
E, de facto, bastaria dar uma volta pela blogosfera para perceber que apesar da teia de idiotices e futilidades continua a ser possível ler bons textos, críticas profundas de forma leve e críticas superficiais escritas de forma mais profunda...
Mas voltemos ao preguiçoso que se assina como autor deste blog vazio de ideias...
Nem uma foto?!
Nem uma crítica mordaz?!
Nem uma mordidela na própria língua... ou, ao menos na língua dos seus correlegionários políticos?!
Apetecia-me conversar sobre as eleições para a Câmara de Lisboa... mas, por outro lado, entendo não dever interferir com a gestão das colónias!
Ando farto, cada vez mais farto do aeroporto da OTA... mas a verdade é que dizem ser preciso acabar com o pântano...
Ando fartinho, mas fartinho de todo, de ouvir falar do TGV quando o nosso metro invicto insiste em não passar de um ramal do desperdício da capital...
E às vezes questiono-me: Será que não fugi ao tema?! Ao meu fio do Norte?!
Será que perdi este Norte?!
Por isso prometo. Juro que prometo! O meu próximo post vai ser um grito do Ipiranga!
E vai ter que ser antes da final do campeonato... para não misturar departamentos.
Áh! E já agora... prometo que vou fazer auto-crítica!
Não contem com o terramoto de Lisboa (pedir tanto seria demais...) mas apetece-me arejar as fundações.

terça-feira, abril 24, 2007

A memória curta....


É provavelmente uma defesa natural do "homo lusitanus".

Uma forma inconsciente de ultrapassar a angústia existencial, este estar aqui sem conseguir mudar o mundo, ao menos o seu pequeno mundo interior...

Quando era miúdo as realidades eram outras. Já havia fome, mas, ao contrário do regime, era muito mais democrática.
Os miúdos de barriga cheia eram menos e transportavam com enfado e desdém os seus farnéis para a escola (na altura muito mais pública).

Quando à hora do lanche se abriam as sacolas para tirar o pão com marmelada ouviam-se alguns colegas, de imediato, com a tradicional expressão tripeira "dá-me uma buca".

E a gente dava. Dava uma, duas ou três até não ter mais, porque ao chegar a casa havia comida na mesa... e para outros, nem sempre ou poucas vezes.

A fome tinha rosto de criança... era subtil, de riso fácil e revolta tranquila.
Tinha sapatos furados, quando havia.
Não tinha sacola e livros nunca... e mesmo escola...

Repetia os anos sem rancor pelo sistema e carregando a cruz das aprendizagens difíceis, como se se pudesse aprender de barriga vazia.
E calava-se. Aguentava sossegada que o Pai era tirano e tinha mau feitio...

A miudagem aguentava, nesta alegria pobre e, talvez por isso, alucinada...

E assim, quando chegou Abril, eu achei que era tempo de mudança.
Não tinha, até aí, tido a necessidade de criticar o sistema e sofrer na pele a falta da Liberdade...
Era miúdo e as minhas preocupações eram outras. Vivia ainda no tempo de D'Artagnan e Lagardere... e obcecado pelos livros dos cinco e pelos gelados Olá e Rajá nas praias possíveis da Leça da Palmeira.

A guerra colonial tocava-me ainda marginalmente, quando os Tios de Angola nos visitavam, de longe a longe (carregados de novidades japonesas) e quando a minha mãe nos seus suspiros aflitos nos imaginava, ainda pouco homens, no combate contra os terroristas...

No Natal percebíamos que já havia mães a viver a angústia ao ouvir as mensagens de Natal.
E tínhamos Fátima em directo pela TV.
Dias de Maio intermináveis com a família reunida à espera de um andor...

E gente de joelhos esfolados, em sangue, a cumprir as promessas dos outros... a prometer pelos outros... pelas vidas que não lhes pertenciam...

Por isso, também, gostei dos tempos de mudança...

Passaram muitos anos... desde Abril de 74. E continuo a lembrar com uma lágrima nos olhos os dias que vivemos.
Nas mudanças mais subtis - como o copo de leite para todos na cantina do nosso ciclo preparatório - como nas mais profundas...

Quantos de nós, hoje, imaginariam um ano inteiro de trabalho sem férias pagas?!
Quantos de nós imaginariam não poder discutir a temática das pensões de reforma, por não haver pensões de reforma...

O País era pobre. Continua pobre...

Mas a nossa maior pobreza, é, seguramente, a nossa fraca memória!

E por isso, hoje, quero lembrar Abril! Lembrando o dia 24 e o dia 25!
Porque um só faz sentido a seguir ao outro!
Porque afirmar a liberdade importa, sobretudo quando sentimos a injustiça do silêncio.

25 de Abril, não se nega. Goste-se ou não do País que daí nasceu, é por ele que podemos, ainda hoje, gritar o que pensamos!

Hoje... mesmo que nos apetecesse... ninguém cala os outros!
E ninguém nos cala a nós!

domingo, março 25, 2007


O Homem deve estar às voltas no túmulo!


Está concerteza!
É que ele, que até foi um estadista virado para a disciplina e o método, Um partidário de um país a duas cores apenas... ao estilo bem característico do seu Amigo Cerejeira... vê-se agora envolvido nestas coisas do "poder do povo".
Tudo o que é a possibilidade de escolher entre mais que dois lados... é demais!
E tem agora que gramar com uma eleição nacional para decidir se foi ou não o Maior Português de sempre.
Por acaso, porque se trata de Grandes Portugueses de Hoje mas também de antes, eu acho que devia ser como no tempo de Salazar:


A haver eleições... até os mortos deviam votar!

segunda-feira, março 05, 2007

O fruto proibido!


Por princípio, não gosto de proibições!


Não sei se é por ter nascido na década de sessenta, ainda o Maio corria nos ventos da Europa...


Não deve ser. Porque o Maio só chegou ao nosso Burgo já eu era espigadote!


Pode ter sido por ter vivido os meus primeiros doze anos em tempos de ditadura (maldita, mas pouco dura que os meus Pais não provocavam o sistema... juraram inclusivamente não ser comunistas para poder ensinar as futuras gerações de guerreiros coloniais).

Até pode ter sido por ter amadurecido depois da madrugada de Abril... ter conhecido o dogmatismo de alguns que se diziam pela Liberdade... a arrogância de outros que criticavam esses mesmos dogmatismos e anunciavam que a democracia é um verbo de encher...

Pode Ser!

Pode ter sido por tantas razões!

Mas a verdade é que eu continuo a achar que devia ser proibido proibir!

Até porque, normalmente, cá pela Lusitana Nação, não resolve.

É proibido andar em excesso de velocidade nas auto-estradas, estradas Nacionais e dentro das localidades... NOTA-SE!

É proibido deitar lixo para a Rua, para as praias, nas montanhas... NOTA-SE!

É proibido buzinar dentro das cidades... NOTA-SE!

É proibido passear cães perigosos sem açaime e trela... NOTA-SE!

Mas estes exemplos são claros atentados ao bem comum!

São casos em que a responsabilidade individual colide directamente com os interesses colectivos.

Nestes casos... mais importante que proibir é responsabilizar!

Educar!

Que, de facto, a cultura é muito mal tratada pela nosso rectângulo Luso.


Mas este post, não pretende focar os casos da violação dos direitos dos outros.

Pretende tratar de um tema, polémico, mas que nos toca a todos, na medida em que se refere a um dos maiores flagelos da nossa era: A Droga.

Valerá a pena proibir?!

E, proibindo... resolvemos o problema?!

Quando apanhamos os infractores, nomeadamente os toxicodependentes, acabamos com o problema?!

Quando, de longe a longe, são presos os grandes traficantes, acabamos com o negócio?!

Que não haja dúvidas! A droga é um flagelo! Uma chaga social que mina, principalmente, os mais jovens e lhes compromete, de forma irreparável, os melhores anos da vida.

A droga ameaça as famílias. Todas! As desatentas, claro, porque chega sorrateira e se instala rapidamente, mas também as mais atentas, porque está ainda por explicar extensivamente o fenómeno da adição.

A droga desarticula o tecido social. Cria desconfiança entre os cidadãos, onera os contribuintes, entope os hospitais com casos desesperados e que teimam em regressar até à desgraça final!

E é por isso que eu pergunto! E é uma primeira pergunta de muitas outras que irei fazendo...

Não valerá a pena regulamentar o uso!

Despenalizar o uso!

Fornecer a droga a preços reais a quem não pode fugir dela?!

E criminalizar apenas os que incitam ao consumo?!

Porquê?!

Antes de mais... porque cada ser humano tem direito à escolha!

Mesmo que a sua escolha seja um caminho impossível!

segunda-feira, fevereiro 19, 2007


Nada pior do que a falta de pão... para que todos ralhem sem ter razão!

E o problema agrava-se quando, tradicionalmente, alguns tinham o hábito infeliz, (ou porque são mais atrevidos, mais resmungões ou apenas lambões), de açambarcar o pão dos outros.

A raiz do problema está no facto da distribuição dos recursos andar ao sabor da vontade dos governos da Nação.
Não é um problema de cada governo em particular, apesar de reconhecer que a distribuição pode seguir critérios desviantes, mas da organização do País.
Mas desde quando não foi assim?!

Há já alguns anos os Portugueses optaram (através de um referendo de carácter vinculativo bem discutível) por enfiar na gaveta da indiferença o projecto de Regionalização.

Os pretextos foram os do costume... que ia aumentar a corrupção, o compadrio político, a despesa pública.
Acrescem ainda os argumentos sobre a unidade Nacional, a indivisibilidade da mais velha Nação da Europa...

E um enormíssimo Etc.

Enquanto isso, por artes demoníacas, o Tio Alberto João foi furando a ilha de lés a lés, fazia um aeroporto com Betão para cimentar o país todo, e consolidava um sistema de "empregamento regional" capaz de garantir as suas fantásticas vitórias eleitorais.
Financiava os clubes da região, os jornais da sua propaganda, as TêVês do seu contentamento.
Ao inviabilizar a regionalização do nosso querido Portugal, criava-se espaço para envios mais volumosos de capital para a pérola do Atlântico.

Por cá, com o projecto da regionalização na gaveta, provavelmente deixou de haver corrupção, os autarcas apresentam as suas parcas declarações de rendimentos a tempo e horas, não desviaram fundos da rés pública, não empregaram familiares... não têm ligações duvidosas a clubes de futebol, nem situações de promiscuidade com a construção civil...

Nada disso!

Com o "arquivamento" da regionalização tudo anda sobre carris!

Ou seja...

Os desmandos do Tio Alberto, justificam-se a si próprios.
Provam que a melhor forma de fazer política é na boa tradição do Nacional espertismo.

Vale tudo! Insultar o Presidente da República - o Sr. Silva - chamar ladrões aos membros do governo, anormais aos juízes, cretinos aos jornalistas, enfim a todos os poderes do estado democrático.

O único poder que ele aceita, para além do seu, é o de Deus e mesmo assim, desde que ande sossegadinho. (E não se lembre de inventar padres esquerdistas).

Como me custa ver que tantos anos após o referendo da regionalização ainda não tenhamos compreendido que a única forma de gerir um País é a responsabilização de cada uma das suas partes (leia-se regiões).

A única forma de poder fazer um País mais solidário, não passa pela atribuição de orçamentos megalómanos aos Bébés chorões da Política à Portuguesa, mas sim à distribuição racional dos recursos e das competências por cada região, respeitando como é evidente, os critérios de solidariedade que o facto de sermos um País impõe.

A última do menino birrento é convocar eleições antecipadas para poder provar a todos os energúmenos do continente que quem manda na Madeira é ele!
Assim como assim, sempre consegue dois anos extra para enfrentar os tempos das vacas magras...
Prevê-se um chinfrim capaz de irritar os mais santos dos santos.

domingo, fevereiro 11, 2007


Os dados retirados do site do stape não deixam dúvidas: http://www.referendo.mj.pt/Pais_compare.do


Mas... há dados curiosos... e eu trago ao blog os resultados, em particular, de uma freguesia do nosso País real. Rabo de Peixe. Conhecem?!


Trata-se de uma pequena freguesia da Ilha de S. Miguel, (Açores) que ficou tristemente conhecida por ter corrido à pedrada os médicos que tentaram promover a importância do planeamento familiar.
Isto já foi há muitos anos e prova que, mesmo em certas zonas da Europa, há sempre evolução.


9 anos depois do primeiro referendo há uma notável progressão do sim, quando comparado com o Não.

O Sim passa de 9,73 % para 29,25 % (É obra!)

E isto tendo em linha de conta que falamos de uma freguesia onde os filhos são muitas vezes também meios-irmãos, netos e outros graus de parentesco afins...


E aí vai o gráfico:









Hoje o País adormece mais tolerante!

e amanhã... acorda com esperança!

E eu acredito que a Natália, hoje, se sentiria ainda mais orgulhosa em Ser Portuguesa!

Um dos seus grandes combates teve agora um dia grande, com o Povo a reescrever a história.

Obrigado Natália Correia pelo teu exemplo de cidadania e inconformismo que nos provou, sempre, que ser Mulher é ser mais alto!

a João Morgado (CDS)

«O acto sexual é para ter filhos» - disse, com toda a boçalidade, o deputado do CDS no debate anteontem sobre legalização do aborto. A resposta em poema, que ontem fez rir todas as bancadas parlamentares, veio de Natália Correia. Aqui fica:

Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o orgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.

NATÁLIA CORREIA

Diário de Lisboa, 5 de Abril de 1982.

sábado, fevereiro 10, 2007


Hoje... Estou a reflectir...

Para amanhã VOTAR!

Porque votar é ser livre!

Por essa razão, até ao fecho das urnas, todos os meus textos sobre o referendo passam a "rascunho".

domingo, fevereiro 04, 2007

O Aborto


Segundo a enciclopédia de Medicina da selecções do reader's digest um aborto é:

"Perda do feto antes da 22ª semana de gravidez ou antes da sua viabilidade (capacidade para sobreviver fora do útero)"

É claro que nunca se utiliza a palavra bébé... filho... criança... anjinho e por aí fora.
Sabiam que, abaixo de um peso específico, os médicos nem consideram a hipótese de entregar o feto aos pais... é pura e simplesmente tratado como qualquer outro produto para incineração?

É também claro que medicamente se entende que um prazo nunca é exacto... mas estamos a falar de 22 semanas contra as 10 semanas que estamos a referendar.

E porquê 10 semanas?!
Chegam?!

Muitas vezes, a esmagadora maioria das vezes, é mais que tempo para a mulher saber que está grávida, que algo correu mal no seu método contraceptivo.
É o tempo necessário para ter já pensado mil vezes se leva ou não a gravidez a termo... e... muitas vezes... ter decidido que não!

E hoje, com a lei que temos... JULGAMENTO E HUMILHAÇÃO!

Porque mesmo muitos dos que dizem que não pode ser discriminalizado, entendem que a prisão é uma pena exagerada...

Basta a humilhação pública no pelourinho dos jornais!

E tudo isto por um acto que se situa no cinzento da dúvida!
E tudo isto por algo que todos nós já vimos ou soubemos acontecer!

Por isso, voto SIM!

Vamos falar de direito à maternidade! De direito à escolha!

Mas, primeiro, acabemos com a humilhação e votemos SIM!

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Quero ser a gota de água!


O meu Amigo João Lopes, do blog http://www.o-observatorio.blogspot.com/ disse-me um dia, quando me deu o pontapé necessário para me iniciar nesta coisa da “blog-o-esfera” que um texto, para ter algum sucesso, não poderia ser muito longo.

E eu sei, acabei por verificar, que isso é bem verdade.

No dia a dia não temos tempo a perder e, por essa razão, não damos tempo a textos mais longos. Abrimos este e aquele blog, damos uma espreitadela rápida e partimos para outro, depois do comentário mais ou menos convencido…

Mas hoje… no intervalo do que ouço, apetece-me escrever, que é mais ou menos a mesma coisa que falar comigo…

Apetece-me passar a noite toda a discutir um tema que me preocupa… e me preocupa apesar de, e talvez por isso, não ser mulher.

A questão da despenalização da interrupção voluntária da gravidez, o tal de aborto que os partidários do NÃO tanto gostam de lembrar, incomoda-me.

Incomoda-me porque é um sinal dos tempos!

A prova de que vivemos num mundo de mentira, numa época de hipocrisias disfarçadas de moralismos e de respeitos intermitentes pela vida.

Hoje ouvi um médico, ginecologista, defender o não, a pretexto de que, às dez semanas de gestação, um feto já é uma vida, devidamente “ecografável”, onde podemos ver uma futura criança.

Não pensa assim quando falamos do filho de uma violação. Essa criança, provavelmente, já não é para ele tão digna de respeito como o filho de uma relação de prazer mais explícito.

O mesmo médico, entende que a despenalização do “Aborto” vai onerar todos os contribuintes. Que as clínicas privadas passarão a facturar à nossa custa!

Até onde vai a vontade de distorcer os factos?!

Será que não é possível defender o não baseado apenas naquilo em que se acredita?!

Quando, um dia, porque um dia assim será, a interrupção voluntária da gravidez não for crime, poder-se-á recorrer a clínicas privadas sem o medo do castigo… mas cada um pagará o seu aborto!

Se recorrerem a um hospital público, é verdade que pagaremos todos… mas não pagamos já?

Alguém se preocupa em rastrear os custos do tratamento das complicações dos abortos ilegais?

Será que os argumentos contra a despenalização não têm por trás o princípio milenar de que o que é proibido é, necessariamente, mais caro?

E de que não é por ser mais caro que acontece menos?

A questão da despenalização da interrupção voluntária da gravidez é o último grande combate pela “autodeterminação” da mulher enquanto cidadão.

Durante milhares de anos deu-nos – a nós, machos “procriativos” – imenso jeito que a mulher engravidasse. Era assim uma espécie de maldição punitiva pelo pecado original que servia para segurar ao miolo da caverna a potencial “galdéria”.

O Homem partia para a caça, mais ou menos garrido com as suas pinturas tribais, acampava pelo mundo, invadia territórios alheios, violava as mulheres dos menos afortunados e, quando voltava para a sua gruta lá encontrava as mulheres e a prole, encostadinhos à pedra do Lar, à volta do calor do fogo…

Depois, bastava apenas cumprir a função. Atingir o seu orgasmo breve e solitário e garantir o sossego da fêmea enquanto os novos caçadores cresciam…

Outros tempos…

Mais tarde, a mulher deu-se ao luxo de pensar - que isto da escuridão das grutas é para o que dá – e, de forma subtil mas persistente foi introduzindo cambiantes fatais na relação humana.

Terá inventado a dor de cabeça como primeiro método de planeamento familiar… (e nem quero imaginar as lambadas, as mordidelas e outras fantasias masculinas para contrariar a maleita…), descobriu o poder das luas, a sua força nos seus ciclos vitais (e com isso desenvolveu a suas capacidades lógico-matemáticas, a astrologia…), a força do diálogo, nem que fosse preciso inventar mil e uma noites de fantasias…

Porque milhares de vidas à volta de caldeirões fumegantes dão força à magia… descobriu poções, métodos capazes de adiar os filhos (e de os desfazer quando tarde fosse…), descobriu que esse deus punitivo dos fins do paraíso não havia fechado as portas todas…

E descobriu também… a força do prazer.

Reinventou o sabor da maçã!

Porque nem só de dores de cabeça se faz, ou pode fazer, o universo feminino.

E, com esse prazer carnal, à volta do pecado original, regressa sempre o problema inicial:

Que é a capacidade, ou não, de decidir o momento certo para a maternidade…

O problema, até pode nem ser meu… (fosse eu capaz de ser assim, tão distante, da mãe que nos gerou…)

O problema pode até ser apenas das mulheres…

Mas se é assim… porque nos preocupamos tanto em julgar?!

Mais… em castigar!

Porque, ao votarmos (ou não) no próximo referendo, estaremos apenas a decidir o mais importante:

É crime?!

Deve ser castigado?!

Por isso voto sim! Um sim ao direito a escolher!

Mas que é um não, muito claro, ao castigo!

Os que votam não… terão os seus telhados cheios de pedras para atirar aos outros… e por isso, na provável culpa do remorso antecipado, vão inventando desculpas fáceis para acusar os outros… as descuidadas… as galdérias… as inconscientes… as promíscuas… as lascivas… as desprevenidas… as esposas submissas (incapazes das milenares dores de cabeça)…

Ou podem, apenas, não estar a ver o problema… ou nem querer saber…

E Deus… esse grande Deus capaz de perdoar… vai vendo o filme passar, no desenrolar fantástico do grande livre arbítrio, forja do melhor e do pior da humanidade…

A vida, no gesto criador, está muito para além da biologia… repousa sobretudo no direito à escolha!

É nisso que acredito!

Por isso voto SIM! Um SIM à liberdade de escolha.

Um SIM à responsabilidade!

Porque ser MÃE é uma coisa muito séria!

segunda-feira, janeiro 15, 2007


Hoje tive um sonho estranho.

O que me safa é que não costumo ter sonhos premonitórios.
É mais do tipo "medos recalcados":

Bom. Mas vamos ao que interessa: O Sonho, ou seja, o pesadelo.

Era dia de referendo... à noite... depois da contagem dos votos dos Açores... e o Sim perdia!

E depois?!
De facto eu até nem pretendo fazer nenhum aborto!
Até estou a descobrir que uma atitude assim mais do tipo "salve-se quem puder", os pobres que paguem a crise, traz vantagens interessantes.

Mas... havia uma ideia que me atormentava no reino de morfeu. Onde é que o País iria enfiar todas as pecadoras e seus cúmplices.

Foi então que o pesadelo se transformou em sonho perfeito.

Mas qual OTA, qual TGV!

O que o País precisa é de uma mega-prisão.
Uma grandiosa obra de regime, com quilómetros e quilómetros de betão e ferro, muita mão-de-obra ilegal para engordar o sistema e montes de novos funcionários prisionais para resolver o problema do desemprego.

E missas! Muitas missas para manter o povinho sossegado, em lume brando...
Bem no meio, uma grande catedral, construída pedra a pedra pelos meninos do rio, mandados vir de propósito do Brasil, em homenagem ao milagre da reprodução e da mão-de-obra barata.
Nas escadas da porta principal, pedintes, milhares de pedintes, ao serviço da nossa caridade... funcionários abnegados (os pedintes) da profissão de fé e do sexo original... antes das modernices blasfemas do uso do preservativo. Infectados, como convém em tempo de milagres...

É que, lá dizia o outro - numa versão livre - "o que é preciso é haver, ao menos, uma droga legal".

domingo, janeiro 07, 2007

Psicanálise da luta dos índios contra os cowboys…

Nada mais triste do que não perceber as nossas próprias opiniões, ou, dito de outra forma, a génese das nossas opiniões.

Que os outros não compreendam, é natural, entende-se e é explicável pela falta de visão de conjunto. Pela não participação no processo do nosso crescimento.

Nós só conseguimos ver uma pequena parte da realidade… e é provavelmente essa uma das razões de tantas diferenças de opinião.


O estranho é quando nos apercebemos, de súbito, que num dado momento da nossa vida algo mudou, tendo essa pequena mudança originado uma série de acontecimentos em cadeia que levou à formação de uma outra personalidade, bem diferente do expectável.

Houve um momento em que tudo levaria a acreditar que este sujeito que escreve estas linhas seria um defensor implacável do sonho Americano.

Recordo os primeiros livros, a formação “Enid Blyton” dos meus seis anos de primeiras letras, que se estendeu por alguns anos de infância. Com eles desenvolvi o meu desejo de aventura enquanto percebia que os Amigos fazem parte da história toda. E que sem eles, a história não tem sentido!

A seguir veio o Buffalo Bill, o David Crocket e o David Carson.

A ideia de que o mundo era um território imenso a descobrir e desbravar, empurrando a barbárie para reservas bem controladas enquanto a civilização avançava implacável.

De súbito, a criança que se imaginava num mundo de aventuras sob controlo, passou ao mundo exterior, ainda que num passado mais ou menos longínquo.

E porque todos todos nós aprendemos fazendo, dos bonecos dos gelados Olá, mimetizando os livros dos cinco nas construções dos legos, fomos passando às cowboyadas de rua, com tiros de imitação e a eterna recusa em fazer o papel do índio, entregue invariavelmente ao mais desejoso do apoio do grupo.

Para poder continuar em casa - fora de horas e às escondidas dos pais - a brincadeira preferida, à saída da escola, em vez de apanhar o autocarro de regresso, mentíamos aos pais e regressávamos a casa a pé, quer chovesse ou fizesse sol, para poupar os 2$50 do bilhete.

E a poupança desfazia-se no Bazar dos três vinténs, no balcão do far-west.

Comprávamos os índios e os cowboys (mais dos segundos, sempre, que dos primeiros, para manter a possibilidade de vitória) e iniciávamos a explicação do nosso mundo infantil.

O mundo girava em torno desta guerra civilizacional de plástico, alegoria pueril da nossa imaginação.

Vista à distância, não posso deixar de reparar na ironia do mercado: Um índio custava tanto como um cowboy… (5$00 – duas viagens de autocarro) e a única diferença no preço era o cavalo… sendo que um índio a cavalo valia tanto como um cowboy montado. (exactamente 10$00, ou seja, 4 viagens de regresso a casa).

Com esta criação do mundo, estreei-me na matemática aplicada à vida e compreendi que tudo se constrói peça a peça, mesmo quando se trata de construir um novo mundo.

Ao fim de algumas semanas (estimo que cerca de 60 – o que equivale a dizer 2 anos de ciclo preparatório, descontando as deliciosas e intermináveis férias de verão, de natal e Páscoa) eu e o meu irmão tínhamos um exército colonial à maneira e muitos, mesmo muitos, inimigos a combater.

Com ajuda externa fomos possuindo tendas para os índios e casas para os cowboys, até que um dia construímos, no pátio da nossa casa, o forte dos cowboys.

Mas, ironia das leituras, o tempo que vivia ajudou-me a descobrir outros universos.

Júlio Verne substituiu Buffalo Bill e o miúdo dos doze anos encontrou outras perguntas…

Com o passar dos meses, enquanto os nossos "Bills", os "Kits" e "Crockets" iam vencendo os "nuvens negras", os "bocejos de urso" e outros personagens da nossa imaginação, fomos perdendo o sentido posicional e ganhando afeição pelos fracos.

E um dia, num daqueles domingos estremunhados sem programação televisiva capaz de acalmar os putos, juntámos a pólvora dos cartuchos de caça do vizinho do lado e planeámos a revolta dos índios.

Minámos o forte (o tal que nos tinha custado semanas a construir), colocamos os cowboys em pontos estratégicos e posicionamos os índios nas redondezas, de forma a poderem assistir à grande batalha.

Quando não havia vizinhos nas imediações riscámos o fósforo, acendemos o rastilho e sentámo-nos a assistir à vingança dos oprimidos.

O forte ardeu, todo, os cowboys derreteram em pequenas chamas azuis até serem apenas insignificantes coágulos de plástico no chão e, durante largas horas, abateu-se sobre a casa um cheiro nauseabundo a morte.

E depois… perdeu a graça!

Nos anos seguintes, a imagem dos cowboys aos gritos foi-se apagando da minha imaginação, até que ontem, acordei estremunhado e compreendi porque razão a minha brincadeira favorita tinha acabado.

Para terminar, uma referência a uma das personagens que mais me marcou:

O Tim.

O resto… fica apenas para a vossa imaginação!...