segunda-feira, fevereiro 20, 2006

A Democracia é o pior de todos os sistemas...


Há temas que, invariavelmente, levam a uma grande crispação.
De todos, aquele que me parece mais frequente na criação desse estado de espírito, aqui traduzido em estado de letras, é a política.
Mais do que o tema religioso, o tema da homossexualidade e do casamento entre “gays”, do tema do aborto, do tema dos cartoons e da terrível guerra dos mundos, cada vez que se abordam temas relacionados com a diferença entre esquerda e direita, os ânimos aquecem, surgem comentários anónimos e troca de piadas.
Ao visitar outros blogs, apercebo-me que a crispação acontece por outros lados, às vezes com diálogos irritados entre conterrâneos ou entre desconhecidos.
Muitas vezes os autores e os comentadores irritam-se (eu incluído).

Eu acredito que isso se deve a 48 anos de amordaçamento.
48 anos em que falar poderia ser um crime grave, punido com prisão, degredo ou exílio, às vezes com a morte.
48 anos em que era possível eliminar fisicamente adversários políticos.
48 anos em que não se votava regularmente e que, quando isso acontecia, votavam também os mortos, porque esses votavam sempre no poder. (o meu Pai, que era Professor Primário numa aldeia do interior, preencheu muitos boletins a mando do cacique local).
48 anos em que o estado era invadido pelos piores tentáculos da igreja.
48 anos em que os melhores da igreja eram ostracizados ou perseguidos.
48 anos em que o povo era metodicamente embrutecido para alegremente ser obediente.
48 anos em que se acreditava no pior do nosso hino e se gritava “Às Armas... às Armas” em vez de proclamar este “Nobre Povo, Nação Valente e Imortal”.
48 anos em que se afirmou o ideal da Raça num País que se poderia ter visto como multi-racial.

E depois aconteceu Abril!

E vivemos anos de loucura. Anos de deslumbramento. De excessos. De Paixões. De Esperança... e desesperanças.

Hoje, 32 anos após a nossa revolução de cravos na ponta das espingardas, valeria a pena sarar algumas feridas e, de forma mais madura, com a força dos Amores crescidos, reflectir sobre as nossas grandes conquistas.

Temos muita coisa menos boa, fruto da nossa revolução apaixonada, mas também, da nossa herança pesada.
Mas temos um grande património. Podemos pensar livremente e falar ou gritar o que nos vai na Alma.

Como diria o Poeta Cantor Sérgio Godinho numa das suas canções “A Democracia é o pior de todos os sistemas... à excepção de todos os outros”.

Viva a esquerda e a direita, porque são ambas parte da nossa condição Humana.

Possamos nós escolher sempre o lado em que queremos estar!

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

O Vasco Granja


Ao ler alguns comentários recentes a artigos deste blog lembrei-me de um assunto que me parece interessante partilhar convosco.
O meu Amigo Marco, na brincadeira, enviou-me cumprimentos do Vasco Granja (tratava-se de uma resposta a uma "boca" do Óscar.
Daí até entrar no saco fundo onde guardo os meus neurónios responsáveis pela memória, foi um salto de pardal.
A minha Amiga Sulista respondeu perguntando se nós conhecíamos o Vasco Granja, o que, infelizmente, não é totalmente verdade.
Conhecemos, mas apenas do pequeno ecran...

Dei um pouco aos dedos na internet e descobri que o vasco Granja tem 77 anos, que é a idade em que Hergé achava que a BD deixava de ser leitura interessante.

Quando eramos miudos e queríamos ver os bonecos tínhamos que esperar pacientemente.
A oferta era escassa. Resumia-se a uns breves 15 minutos diários de Super Rato, de speedy Gonzalez ou de Bip Bip.
Aos domingos tínhamos o prazer sublime de ver cinema de animação por um período mais longo, com o Walt Disney a apresentar os seus herois.
Estes momentos curtos espicaçavam ainda mais o nosso interesse. De tal forma que uma ida ao cinema para ver o Ben-Hur ou os 10 mandamentos tinha o momento mágico na animação inicial.
Era lindo!
Foi aí, já depois do 25 de Abril, que apareceu o Vasco Granja. Com desenhos do outro mundo. Uns melhores... outros nem por isso.
Variedade e muito mais tempo para rir.
Bonecos feitos de tudo. De plasticina, de cordel e de muita imaginação.
Mas havia vida para além da animação...
Divertiamo-nos a ver o cartaz TV (a minha filha nem quis acreditar que conseguíssemos passar uma hora por semana a ver a programação dos dias seguintes).
O “Se bem me lembro” do Vitorino Nemésio era magnético para mim.
E as séries não eram diárias como hoje são as telenovelas. Eram semanais.
Uma das que recordo com mais nostalgia era “Casei com uma feiticeira”.
Há alguns dias, ao ver a reposição no canal 2, fiquei em estado de choque ao saber que a protagonista já tinha morrido (de velha!).

Todo este palavrado revivalista serve um propósito fundamental: reflectir sobre os efeitos da escassez e os efeitos da abundância.

Quando a oferta era pouca. Usavamos os nossos tempos de espera ansiosa a fazer construções com Lego, a ler os livros dos "Cinco" (li mais de vinte vezes "os cinco voltam à ilha"), bem como dos "Sete" e a fazer aquelas coisas que enlouqueciam os nossos Pais.
Nos momentos em que a televisão nos dava o que queríamos, aproveitávamos ao máximo.
E depois...
Ouvíamos música... mas como tínhamos poucos LP’s (por acaso nem tenho saudades do vinil), cada disco era tocado até só se ouvirem as batatas a fritar.

Hoje que a oferta é muita, provavelmente excessiva, valoriza-se pouco o que temos. Usamos demasiado tempo em frente ao televisor a fazer “mappling” e “zapping” e achamos que os momentos que temos entre estas actividades e os computadores são enfadonhos e difíceis de suportar.
Como Pai, acho que nem sou dos que terão mais razões de queixa. A Joana lê bastante, gosta de conversar de viva voz com os Amigos. Ouve música (até bastante audível) e sabe divertir-se... Nem liga muito à televisão.

No entanto... reflito muitas vezes sobre esta questão: devemos restringir o acesso à internet e à televisão aos nossos filhos?
Tenho Amigos que têm horários apertados para cada coisa. Faz sentido?
É que eu acho que é proibido proibir... mas também não gosto de excesso de facilidades...

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

O Juíz decide... por favor...

Hoje voltei a viver uma experiência muuuuito interessante.
Fui pela terceira vez ao tribunal criminal do Porto (ao 2ºjuízo) na esperança de poder resolver um assunto já com alguns anos.

A esperança, diz o povo, é a última a morrer... e como eu sou um Homem de fé, lá fui à hora marcada.
Mas... comecemos pelo princípio.

Há cerca de 3 anos (já nem me lembro com exactidão), ao trazer a minha filha da escola para casa, ao fim do dia, presenciei uma daquelas situações desagradáveis de uma discussão motivada por complicações de trânsito.
Uma senhora já com uma certa idade (mais de 60 anos) descarregava o carro obstruindo ligeiramente a rua.
Um condutor viu-se obrigado a parar o carro e iniciou-se a habitual troca de buzinadelas (para desespero dos peões passantes) e daí aos mimos do costume foi um instante.
De súbito, saltam do interior do automóvel 2 Homens e uma Mulher que iniciam um espancamento público digno das sequelas da guerra do Iraque.
No momento em que me vi forçado a intervir (a medo, claro!) já havia sangue e foi necessário ameaçar com a polícia para que a agressora deixasse de trincar a mão da agredida.
Foi isto! O agressores arrancaram à pressa (o milagre do desentupimento do trânsito aconteceu) e eu lá acabei por deixar os meus dados, a matrícula dos meliantes e a promessa da minha boa vontade.

Não imaginava onde me estava a meter!
2 anos depois fui depor à polícia (que me agradeceu a disponibilidade) e contei esta mesma história.
Em Dezembro foi marcada uma audiência num dos tribunais do Porto. Lá fui, esperei 2h30m e comunicaram-me que por falta de um arguido tinha sido adiada para Janeiro.
Em Janeiro lá voltei a estar. As testemunhas (que agora são mais que as mães e afiançam terem lá estado todas! Milagre das rosas aplicado aos amigos dos arguidos) não faltaram... os arguidos também não, nem tão pouco a queixosa.
É preciso deixar bem claro que eu já não conseguia reconhecer ninguém!
Os advogados compareceram e por isso esperámos mais 2h e qualquer coisa (uma manhã toda à volta de coisa nenhuma).
O Juíz (ou o oficial de justiça, que eu nestas coisas da barra dos tribunais sou um leigo) mandou dizer que o julgamento ficava marcado para o dia 13 de Fevereiro.
Não perdi o tempo todo. Fiquei a saber mais umas coisas sobre chás e produtos naturais... discuti um pouco do desenrolar da última jornada futebolística, aproveitei para dar uma vista de olhos nas revistas do costume (tal qual como nos consultórios médicos) e assisti ao vivo a debates agitados (fora da sala de audiências) entre amigos das duas facções em conflito.
Senti-me tão sozinho!...
É que por acaso, eu até era o único que não conhecia ninguém.

E hoje, este cidadão armado em testemunha, lá voltou ao tribunal.

Estranho... muuuuito estranho... o tribunal à hora marcada estava quase deserto.
Fui ver... não, não era neve... era apenas um pequeno lapso do tribunal. Tinham tentado avisar-me por telefone do adiamento do julgamento, mas optaram por não deixar mensagem no voice mail.

E assim sendo lá voltarei para a semana... esperando que seja a última vez.

Uma pergunta: será que fazem estas coisas para acalmar os impulsos de cidadania?!

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Mas que mania...

Às vezes lá calha!

A mim? O tal que começa por ter a mania que continuar correntes (as correntes em sms, em email, em cartas... eu sei lá!) pode dar azar?!

A mim, pois!

A Sofia (do Blog se vê) lembrou-se de me colocar lá no seu sítio como vítima a contaminar.
Está bom de ver que só me apeteceu fazer de conta que não tinha visto o recado...
Mas quem é que consegue impedir um tipo como eu, com um ego super-alimentado, de falar sobre o seu umbigo?
Claro que falar de manias deixa um pouco a desejar... mas tudo se tenta compor.

Para começar, a primeira é mesmo a mania que continuar correntes dá azar.
A segunda é que existe uma cidade a Norte do rio Douro que é especial. O Porto claro!
A terceira é que o que faz o nosso F.C.Porto grande é a atitude! A nossa capacidade de acreditar. Sempre!
A quarta é que vale sempre a pena uma boa discussão, isto é: falar e ouvir os outros. Lembrem-se que é dela que nasce a luz!
E a última e não menos importante, é que vale a pena viver. Com espírito positivo e lado a lado com os Amigos.

E sobre os Amigos... valia a pena escrever um post. Mas fica para depois que agora estou a pensar sobre as vítimas a escolher.
Ainda pensei escolher blogs que não me visitem... assim tipo castigo.
Também considerei a hipótese de escolher visitantes sem blog, tipo Vatamico, mas era batota.
Sobrou para os mais assíduos.

E... porque o que tem de ser tem muita força...
E até quando se fala de segurança rodoviária haverá concerteza manias qb lembrei-me do Nuno Figueiredo do Sentido Proibido
Lembrei-me também dos , Contos Eróticos de Sutra um blog curioso sobre temas sempre interessantes e onde não faltam manias com toda a certeza.
O Zel da Roda de Pedra que tem tido a amabilidade de nos visitar frequentemente e agora leva com isto (valha-nos Deus! Que mania de penalizar quem nos dá atenção).
A Eva dos Delírios da Eva que entre outras coisas tem um blog que fala das ilhas mágicas dos Açores. Manias insulares não faltarão.
e... para dar aquela imagem internacionalista, mas dentro da pátria da língua de Camões... lembrei-me da Vica dos Novos Ares que de quando em quando aparece por aqui para deixar os seus comentários simpáticos do lado de lá do Atlântico... tanto mar... tanto mar... até pode ser que as manias do Brasil sejam do tipo das nossas... porque não?!

Ufa!
Nem imaginam o que sofri a colocar todos estes hiperlinks que espero que fiquem a funcionar sem sobressaltos.

Aproveito para dizer a todos os eleitos que deverão escrever nos seus blogs um artigo onde apresentem 5 manias (não precisam de ser as inconfessáveis) e escolher 5 inocentes bloguistas para continuar esta cadeia de divulgação da blogosfera.
Se algum destes blogs já foi indigitado nesta tarefa espinhosa... sei lá! Adiante!

Até ao próximo post... menos infeccioso.

domingo, fevereiro 05, 2006

Na casa dos outros...


Se fosse para dizer banalidades, (coisa que muitas vezes até tem graça), provavelmente escolheria outras vias de comunicação.
Os temas mais banais, aqueles que não nos aquecem nem arrefecem mas que muitas vezes nos fazem rir, precisam de mais presença, de mais risos fáceis.

E é por isso, porque estes espaços da net nos dão mais tempo para reflectir, que gosto de escolher temas mais controversos.
Ao ler os comentários ao meu último artigo, apercebo-me como é fácil distorcer o que pensamos.
Algumas vezes bastará um erro de interpretação ou uma leitura menos atenta, ou até, porque não, uma construção deficiente do texto.
Outras vezes, infelizmente muitas, bastará um pouco de má fé, aliada a maus instintos e atitude cobarde escondida sobre o nome de um qualquer anónimo.

Para que fique claro, esta sociedade onde vivemos, dita civilizada e ocidental tem imensos defeitos que abomino, mas também inúmeras virtudes que defendo.
Apenas não me assumo como paladino do "ocidentalismo" pelos quatro cantos do mundo. (ideia curiosa esta, dos quatro cantos, que continuamos a usar, apesar de estarmos hoje bem certos de que o mundo é redondo, ligeiramente achatado nos polos).
E antes de tratar o tema que escolhi para hoje, aproveito ainda para dizer (neste casos escrevendo), que os próprios termos "civilizada" e "ocidental" são de per si bem relativos. Para que nos assumamos como ocidentais, apenas é necessário que nos desloquemos para o lado oeste de um qualquer oriente. É sempre uma questão de posicionamento e perspectiva.

Mas... adiante!
Uma das virtudes que aprecio, na nossa velha e sábia Europa, apesar de já sem alguns dentes, (a velha Europa, claro) é a ideia de tolerância e de respeito pela diferença.
Já o disse muitas vezes, mas faço parte dos que acreditam que a Democracia é mais que o poder das maiorias. É também, necessariamente, o respeito pelas minorias.
E isto deve servir para quando estamos no lado das minorias, mas, sobretudo, para quando fazemos parte das maiorias.

E assim sendo... sendo certo que faço parte do numeroso número dos que fizeram uma opção heterossexual e, porque encontraram a pessoa que acharam adequada para partilharem uma vida comum, fizeram um contrato público que define as regras da vida em comum, não percebo porque razão, só porque faço parte de uma maioria, hei-de inviabilizar outras opções de vida.

Hoje discute-se a possibilidade de pessoas, independentemente do seu sexo, poderem celebrar um contrato do tipo do casamento.
Ouvem-se as vozes dos detractores desta medida, alegando que este tipo de casamento é contra-natura, que contraria o grande desígnio do ser humano, agora assumido como a reprodução da espécie.
É curioso verificar que muitos dos principais opositores à legalização deste tipo de casamento optarem também eles por não se reproduzirem...

Pois a mim parece-me que o principal intuito de um alargamento do âmbito da lei que define as condições do casamento é regulamentar o que já acontece de facto.
Permitir que quem opta por dividir a sua vida e também a propriedade, o possa fazer de forma clara, sem ambiguidades e constrangimentos.
Com a celebração de contratos entre pessoas, independentemente do sexo, assegura-se que quem casa aceita regras determinadas de convivência e define também o que acontece aos membros do casal quando um deles morre. Determinando a transmissão da propriedade e evitando que pessoas que viveram juntas uma vida inteira, que juntas construiram e partilharam espaços e vivências, possam ser privadas disso mesmo por outros, em nome de laços familiares.

Acredito na Família, mas acredito também que somos mais do que isso. Somos em função de quem Amamos, família ou não e isso está bem patente na lei, quando define que o conjuge, apesar de não ter connosco laços de sangue, é também família.

Porque não há-de alguém poder afirmar isso mesmo... para além da possibilidade da existência de laços sexuais?

Somos de facto uma sociedade obcecada sempre com o mesmo. Haja Freud!

Um caso final para reflectirmos:
Se duas pessoas decidirem compartilhar espaços e atenção e optarem por viverem juntas, nós seremos capazes de criticar?
Se ao fim de alguns anos uma delas morrer e a casa onde viviam for reclamada pelos seus herdeiros, seremos capazes de apoiar o despejo da que sobreviveu à primeira?
Se os mesmos herdeiros reclamarem todos os pertences, independentemente de saberem ou provarem a quem pertenciam de facto, se ao seu familiar, se à outra pessoa ou se às duas, ficaremos calados?

Ou seremos capazes de defender a existência de uma lei, clara e inequívoca, que determine a possibilidade de celebração de contratos entre duas pessoas, independentemente das suas opções sexuais, dos seus credos religiosos, das suas idades, da cor das suas peles?

Vá lá! Pensem nisto! Afinal... nem precisamos de viver com elas!

sábado, fevereiro 04, 2006

Brinquem... brinquem... mas com cuidado!

A liberdade de expressão é um tema difícil.
Difícil porque se trata do exercício de um dos mais preciosos bens de que dispomos enquanto seres humanos.
E é por isso que me assaltam sentimentos contraditórios quando reflicto sobre os "cartoons" do Profeta Maomé.
Confesso que ainda não tive oportunidade de olhar para eles e "ver claramente visto" o pomo da discórdia.
Confesso também que a curiosidade me roi...
Mas, porque o que importa não é tanto o cartoon em si, mas a intenção por detrás da caricatura, parece-me legítimo usar da minha liberdade de expressão para opinar sobre a matéria.
Como cidadão do mundo entendo que posso observar o mundo inteiro, ter opiniões próprias sobre as realidades observadas e comentá-las com os meus concidadãos.
No entanto, porque acredito que só somos livres, verdadeiramente livres, quando respeitamos os outros, evito a piada gratuita, o comentário inoportuno e tento não ferir susceptibilidades desnecessariamente.
Neste caso, compreendo a atitude do primeiro ministro da Dinamarca, ao afirmar que, no respeito pela liberdade de imprensa, não pode impedir os desenhos sobre o Profeta, mas que lamenta os ataques inusitados (não terão sido exactamente estas as suas palavras, mas a intenção era esta).

Imaginemos que, um qualquer estrangeiro, um pagão qualquer ou um infiel empedernido, se lembrava de fazer "cartoons" difamatórios sobre a virgindade de Maria, a honestidade de Jesus ou qualquer outra coisa de carácter menos abonatório para a nossa fé Cristã...
Já não temos fogueiras em actividade para queimar os hereges... já não dispomos de câmaras de tortura para extorquir confissões aos infieis (não teremos?!), mas vontade não faltaria a muitos.

A virtude dos povos mais tolerantes está na rápida auto-crítica, temperada com a tolerância para com os erros alheios.

Temos tanto tema para cartoons na nossa querida Europa. Até podemos ir mais longe e fazer piadas com os nossos parceiros deste "ocidente cultural". Podemos até brincar com a sacro-santa globalização...
Não é, seguramente, com atitudes destas que poderemos defender o ecumenismo.
Não é por este caminho que ganhamos autoridade nas críticas ao fundamentalismo islâmico.
Não conseguiremos conquistar os povos vizinhos com estas piadas sobre as suas convicções profundas.
Nem tão pouco, ao associar o Profeta Maomé à imagem de uma bomba, provamos ao Islão que conhecemos a sua cultura. Que lemos o Corão e compreendemos que a verdadeira mensagem que está contida nas suas palavras é a mensagem dos grandes livros da Humanidade, ou seja: a mensagem de Paz.

Como diria o "Diácono Remédios": Brinquem, brinquem... mas com cuidado.