quarta-feira, novembro 11, 2009


Francisco Van Zeller ao seu melhor nível!

Este Senhor, que por acaso até é o Presidente da CIP, leia-se Confederação da Indústria Portuguesa, protagonizou hoje um dos melhores momentos da política económica dos nossos tempos...
Colocou uma pergunta a Helena André, actual ministra do trabalho que, não fosse uma pergunta feita bem a sério, poderia até fazer parte de uma rábula dos gato fedorento.

"Que pensa a Sra. Ministra da possível alteração do quadro legal, que passe a permitir às empresas substituir empregados desadaptados e desmotivados por outros empregados mais jovens..."

A Sra. Ministra concerteza agradeceu a pergunta, dado que, na sua resposta, lhe foi possível deixar claro que este governo se preocupa com todos os cidadãos que trabalham, independentemente da idade. (O que até já soa estranho aos ouvidos dos eleitores deste mundo em que vivemos).

Se não vivessemos numa democracia, provavelmente o Sr. Van Zeller teria uma proposta um pouco mais arrojada, assim do tipo:

Porque não uma injecção atrás da orelha dos funcionários quando, por força do peso da idade, começassem a evidenciar sinais de desadaptação e/ou desmotivação.

Com um patrão deste nível a motivação para sair de casa para ir trabalhar deve ser do melhor... Vai lá vai!

Era um fartote a encher seringas!
Eu vou mais longe! Patrões destes, claramente com prazo de validade caducado, logo depois da injecção, ainda na fase do estrebucho era biqueirada com eles! No Sim senhor, que era para chegarem ao inferno e nem terem como se sentarem. Ai era era!

terça-feira, novembro 03, 2009

Pois a notícia é que tomei a decisão de publicar em livro os poemas dos 4 anos do blog "A Nossa Pena".

Conto convosco para o comprarem e irem ao lançamento.

Darei notícias!...

sexta-feira, agosto 07, 2009

O nosso Porto!

Cara Elisa Ferreira,

Dirijo-me a si, não como militante do Partido Socialista (que efectivamente sou), mas como cidadão do Porto que sente a tristeza imensa de ser governado por alguém que não se revê na cidade.
Escrevo-lhe com a convicção que o momento grave que atravessamos a Norte também é da responsabilidade do Partido Socialista. Porque, quando a hora de discutir uma nova forma de organizar o território nacional chegou, assobiou para o lado de Lisboa e deixou cair as diferenças de cada região tornando uma vez mais este País num projecto adiado.
Escrevo-lhe porque, como muitos outros Portuenses, no momento em que foi anunciada a sua candidatura à Presidência da nossa Câmara, acreditei que voltávamos a ter alternativa!
Um projecto que reafirmasse o orgulho em ser tripeiro! Um projecto que afirmasse as diferenças e explicasse a todo o País porque é que não existe apenas um Portugal… E porque é que vale a pena ser do Norte!
Aqui, temos memória! Lembramos o trabalho todo que foi feito por Fernando Gomes, quando de um Porto triste e abandonado construiu um projecto arrojado, transformando uma cidade cinzenta em Património Mundial.
Quando lançou novas pontes a essa outra forma de ser Porto que é Vila Nova de Gaia. Quando lançou as bases do Metro, quando iniciou o Parque da Cidade e muitos, muitos outros projectos que contrastam com o estado actual de cultura do miserabilismo desse Senhor que, por erro de casting, (mas também por ambição macrocéfala dentro do Partido Socialista) foi eleito Presidente da Câmara da nossa cidade!
Porque a nossa memória também serve para nos recordar que o nosso Presidente de então trocou a cidade pelo poder central. Também serve para lembrar quem quer ter um papel nos destinos da cidade que o poder não pode ser descartável. Que o governo da cidade não poderá “seguir dentro de momentos”.
Queremos e merecemos um Presidente a tempo inteiro. De corpo inteiro, mas sobretudo, com o coração todo na cidade!
Eu não tenho dúvidas que votarei Elisa Ferreira no próximo dia 11 de Outubro… Porque não duvido que ninguém tem o direito de lhe dar lições sobre como ser tripeira. Porque não duvido que, sendo eleita, será uma excelente Presidente da Câmara… mas muitos cidadãos como eu, na altura de votar, vão voltar a hesitar e, provavelmente, por não sentirem que o seu projecto é apenas o Porto, poderão nem sequer votar!
É assim que o actual Presidente da nossa Câmara tem ganho eleições. Porque nós, no Porto, não queremos meios projectos, nem projectos a meias.
Não duvido que seja uma excelente deputada Europeia… Até lhe digo que, se o que estivesse em jogo fosse apenas isso, seria com imenso orgulho que a veria representar Portugal em geral e o Norte em particular, no parlamento de Bruxelas. Mas acredito que o que falta hoje é ouvi-la dizer, antes do dia das eleições, que o seu projecto é um e apenas um: O Porto!
E, porque o combate de uma cidade não se resume a um dia de eleições, faz-se em todos os dias que vão de uma derrota até a uma possível vitória, também não queremos candidatos apenas a Presidentes… Queremos candidatos a defender os interesses do nosso Porto!
Queremos ouvi-la dizer que será Presidente ou líder da oposição na nossa cidade!
Queremos políticos que assumam o seu papel nas vitórias de hoje… mas também nas possíveis derrotas, para que amanhã possamos sair todos vencedores!

Como lhe disse, vou votar em si!
Com a tristeza imensa de saber que vou votar numa candidata possível, quando tudo está tão perto de poder ser o voto na candidata ideal!

domingo, agosto 02, 2009

Um Caminho.4

As voltas que o tempo nos dá!
Vou escrevendo e descobrindo que a minha história é uma colcha imensa, feita aos quadrados que não casam... mas o que importa é que nos tire o frio...

Ser filho de Professores não é tarefa fácil. Confirmei-o em todos os Amigos e Amigas que partilharam essa realidade. Como não será fácil, seguramente, ser filho de outro tipo de profissionais.
Ser filho de Professores foi dramático na relação com os colegas de escola. O estigma do “favorecido” esteve sempre presente. Os Amigos e colegas dividiam-se entre o respeito a outro que não eu e a amizade por mim. Em momentos calmos não se via a diferença nos comportamentos… mas, em tensão, as recriminações apareciam. Eu nunca fui do tipo de trazer a bola e acabar com o jogo. Aliás, qualquer jogo esteve sempre no lado dos princípios. Um jogo foi sempre coisa séria. Não importa, nem importou nunca o que se joga. Importa como se joga e o empenho que se põe no jogo.
A escolha da escola de um filho, que a mim, Pai unigénito, me pareceu tão rápida (se bem que não fácil) de resolver, foi no meu caso e do meu irmão mais novo, um drama arrastado por mais de quatro anos.
Imagino, ouvi falar, que no caso das minhas irmãs os meandros terão sido parecidos. Com contornos parecidos e enredos também suficientemente caricatos. No meu caso. a novela começou ainda antes dos 6 anos.
No álbum fotográfico (ao lado das 12 ou 13 fotografias da época) é referido que aprendi as primeiras letras aos 5 anos.
De facto, recordo-me muito bem que estive emprestado a uma primeira classe da qual não poderia, de verdade, fazer parte.
Por isso, não valeu! Não passei do filho da professora da escola ao lado (mais uma vez havia a separação entre rapazes e raparigas). Provavelmente atrapalhei mais o trabalho ao Professor que acedeu aos pedidos da minha Mãe do que aproveitei nesse breve período.
E, sendo assim, lá entrei para a escola aos 6 anos. A experiência desde logo demonstrou que havia uma verdadeira separação familiar no que dizia respeito às competências fraternais, ao empenho e ao aproveitamento escolar.
O sucesso conjugava-se no feminino. O meu… ia dando para o caminho!
A Isabel era a revelação extrema. Entrara precocemente para a escola. Transitara rapidamente para um ano à frente e eu, bafejado pela sorte de uma hepatite aguda que me atirou três meses seguidos para a cama, lá consegui esbater diferenças.
Esses três meses foram a terra prometida de qualquer aprendiz de preguiçoso. Tinha uma família inteira aos meus pés.
Irmãos autorizados a brincar comigo no tempo todo do mundo. Uma dieta acima da média doméstica, coroada pelas magníficas torradas com doce do meio da tarde. E… sobretudo isso, até porque o séquito de servidores tinha mais que fazer durante o dia, livros para descobrir.
Atirei-me com zelo e determinação à descodificação do meu primeiro livro dos 5. Por acaso, o número 3, “Os 5 voltam á ilha”.
Era o que estava disponível naqueles dias. Esta história de começar pelo meio teve o condão de me adoçar a boca. Não descansei enquanto não li e compreendi todo o livro. Como não descansei enquanto não parti para o primeiro da colecção e logo depois para o segundo, dando assim início a uma relação apaixonada com a palavra escrita.
Quando voltei à escola, já tinha passado da fase do “ajuntamento de letras” para a leitura mais ou menos escorreita.
Terminei a 1ª classe coxo em algumas matérias, mas perfeitamente capaz em leitura. Menos Mal!
A partir daí perdi a conta aos professores. Ou, pelo menos, deixei de os conseguir situar cronologicamente: o Pereira, o Leal, o Peixoto… Apenas tenho a certeza que, algures entre meados da 2ª classe e meados da terceira partilhei uma professora com a classe do meu irmão mais novo.
Coisa inédita, isso de duas classe com uma só Professora, modernices que atrasaram o meu irmão para algumas matérias, enquanto o faziam precoce noutras.
A nossa Professora comum era completamente fora dos padrões da época. Não batia nos miúdos. Tratava-nos por “meus filhos” e era mais rápida no elogio que na crítica.
Era, para além disso, mãe de um Amigo que, padecendo embora desta sina comum de ser filho de Professora, acumulava ainda com o facto de ter um Pai militar!
As coisas podem ser fantásticas! Penso que algum do meu desdém pelas hierarquias militares se funda nesta fase da minha infância!
Desorientado, flutuei entre o fascínio por exércitos em formação, quais bonecos de chumbo do meu imaginário infantil e uma irritação urticariforme em relação a vozes de comando, impossíveis de discutir...
Um dia gostava de conversar com o Augusto sobre esse Pai tão estranho aos meus olhos de miúdo irrequieto.
Tinha centenas de soldadinhos de chumbo, tanques de guerra, aviões de combate. Tudo impecavelmente alinhado em armários de portas de vidro e, cruel ironia, não podíamos tocar em nada!
Ao menos ao Augusto estava absolutamente proibido! A mim ainda me foi dado o prazer fugaz de lhes sentir o peso e observar à lupa da minha curiosidade toda a cor das fardas e sentir o cheiro do seu chumbo.
Nessas tardes, jurei a mim mesmo que havia de construir o meu próprio exército. E, anos a fio (mais ou menos dois ou três, que no tempo dos miúdos é uma pequena porção de eternidade) eu e o meu irmão fomos gastando os sapatos, poupando os 2$50 do autocarro no regresso da escola.
Dia após dia, voltávamos a pé queixando-nos do caos do transito, justificando a demora, quer chovesse ou fizesse sol.
Foi quando percebi que uma vez encharcado, já pouco pode piorar. Apenas nos candidatávamos a um dia de molho na cama, fungando do nariz e comendo as proverbiais torradas com doce. A pieguice dos homens fazía-se assim: cama quente e papinha da boa. E pouca escola, claro!

terça-feira, julho 07, 2009

Um Caminho.3

.......Abrantes foi, portanto, uma casa breve. Um lugar de saída, de começo, de memórias difusas.
.......Agora já não sei colar as coisas no lugar. Não tenho a certeza se as memórias das mãos dadas com o meu Pai, no café, na papelaria do Vítor Borda D’Água, são do antes ou das visitas que depois fomos fazendo a Abrantes.
.......Fica para memória presente que guardo em mim o orgulho de um Pai com o filho, qual troféu, por entre conversas de Amigos.
.......As mágoas ficam para mais tarde!

.......Porque este meu Pai há-de ter sido mais forte do que ele próprio pensava.
.......Porque este Pai que eu lembro dos dias de Abrantes é, ainda hoje, o Pai que eu procuro dar à Joana nos dias em que tento construir futuro e estruturar o seu passado!

.......Este é o Pai que, noite após noite, enquanto me aconchegava os lençóis, me coçava as costas num ritual definitivo. Definitivo porque sempre que o faço, à Joana, me lembro dele. E sempre que me queixo que se trata de um gesto sem retorno me recordo também das suas queixas.
.......Este é o Pai que anos após anos nos preparou o copo de leite da manhã. Preparava-o, personalizado em função dos gostos e caprichos dos 4 filhos que, mais ou menos estremunhados faziam desse gesto o toque de despertar. Só me recordo de quebrar esse ritual no dia em que saí de casa.

.......Mas, porque lá vou eu às voltas para fora do assunto inicial, regresso a Abrantes.
.......Da minha terra natal pouco mais recordo dos dias abaixo dos três anos. E, provavelmente, é assim que deverá ser e sendo assim importa respeitar os caminhos da memória. Neste caso, sinuosos como o dono!
.......Sei que morávamos na escola, onde em cada passagem corríamos em peregrinação todas as vezes que lá voltávamos. Na escola das meninas. Que os tempos não eram de misturas e o sexo oposto era anos a fio visto como isso mesmo…
.......Era nessa escola que a minha Mãe dava aulas. A casa da professora não era magnífica. Já não o era e as visitas posteriores assim o confirmaram. Na memória construída desses tempos, em noites de recordações familiares, estão as armadilhas para os ratos, às dezenas, como impunha a tradição e as minhas fantasias de miúdo (e os contos aumentativos da minha Mãe). Estavam por baixo das prateleiras da dispensa, por baixo de uma escada.
.......Gato não havia… talvez porque o respeito do regime de então pela classe dos professores não se compadecesse com o necessário sustento de quatro filhos. Não eram tempos para encher a barriga a animais de companhia… e nem disso precisávamos porque companhia foi coisa que nunca faltou…
.......No recreio da escola, que era também o jardim da casa, neste jogo esquizofrénico entre o trabalho da Professora/Mãe e os afectos da Mãe/Professora havia um Mundo imenso.
.......Recordo vivamente uma casa de banho com portas de madeira de tinta lascada, igual a todas as casas de banho das escolas que conheci (e foram bastantes!).
.......No recinto, árvores e terra batida. Ao fundo do recreio um muro encavalitado sobre o terreiro das camionetas de passageiros.
.......O mesmo muro onde estive para cair, sendo salvo in extremis pela minha irmã mais velha. O tombo, que na altura me teria parecido imenso, estes anos todos, descontados os centímetros do meu inevitável crescimento, teria sido apenas o suficiente para não estar hoje aqui a contar mais nada.
.......A última vez que olhei o muro (faz quase um ano), reparei que já está devidamente protegido com uma rede muito “europeia” e absolutamente em conformidade com as normas vigentes para qualquer escola que se preze. Aproveitei e confirmei o mito familiar!
.......Teria sido caso para drama inolvidável para o resto da família. Como não foi, o assunto resumiu-se a uns açoites à minha irmã, confirmados durante anos pelas palavras de arrependimento em muitos serões em anos seguintes.
.......À minha Mãe tinha-lhe parecido que a Cristina se entretinha em empurrar-me muro abaixo, numa confirmação tresloucada de um qualquer complexo Freudiano, e, sendo assim, aplicou a regra básica da educação da época, muito em voga no nosso clã: Até prova concludente em contrário, a culpa não pode morrer solteira.
.......A regra era de ouro e confirmava-se muitas vezes. Não foi o caso.
.......A confirmação do arrependimento foi-se varrendo nos últimos anos, nas últimas reuniões de família e o mito transformou-se em lenda!

.......Já não tenho a certeza de nada! E não interessa! Que a memória tem dessas coisas… é de cada um de nós!
.......E isto vale no seu todo! As minhas memórias serão reais?

sexta-feira, junho 19, 2009

Um Caminho.2



Verifico que muitos dos meus textos começam com a minha mão à procura de outra mão… e, numa espécie de auto-psicanálise barata, tento encontrar razões.
“Num dia, de um mês, de um ano qualquer, no século XX, passeavam tranquilamente um Pai e um Filho. O filho pela mão do Pai, o Pai pelos olhos do filho”. Foi isto que escrevi num breve conto psicadélico dos meus 18 anos…

Esta mania de complicar as coisas… Pai e filho podem falar uma vida inteira sobre coisa nenhuma… e é assim que a coisa funciona.
As paixões de um Pai podem passar a ser apenas manias de um filho qualquer. E isso é grave?
E dar a mão é assim tão importante… tão estruturante?

Será que é por isso, também por isso, que preciso de uma mão na minha ao adormecer?
Será que tudo se resume a um conjunto mais ou menos vasto de sensações de infância?

Será que nunca conseguiremos deixar de ser os caçadores cansados, enroscados, à noite, no meio do mato, fogueiras quase extintas, com saudades da caverna da sua Mãe?!

Adiante… que o tema é rico e dá para muita conversa da treta!

Vamos então desconstruir o miúdo. Perceber o barro do qual se fez este homem.

A paixão pelo Porto não é primordial, porque tudo começou noutras latitudes.
E é nessas latitudes que, provavelmente, estão os nós maiores deste meu ego. O tempo turvou já aquilo de que me lembro e, por essa razão, não me é já fácil distinguir o que foi real daquilo que já construí em cima das minhas experiências.
A memória mais sólida de Abrantes é do dia de saída. Do imenso caixote de brinquedos ao cimo das escadas, condenado pelas leis do espaço a não viajar para o Porto.
O caixote, admito, é do tamanho do desejo/revolta da criança. Provavelmente estaria cheio de quase coisa nenhuma… mas tem a força da teatralidade do momento.
A verdade é que, mais de 40 anos depois, não consigo diminuí-lo. Era grande, ponto!

Tem o tamanho imenso que todas as perdas futuras terão sempre para mim!

Se me perguntassem, sem toda a informação que recolhi mais tarde e sem a lógica inevitável do preenchimento dos espaços vazios, se tinha saído directamente de Abrantes para o Porto, diria que sim. Claro que sim!

Mas não! Há, pelos vistos, um período que só a custo recordo, em que estive sem os meus Pais.
Parece que pouco tempo, um mês, talvez nem tanto, estive com a minha Avó e com o Avô que nunca foi Avô até morrer.
Apenas lembro o momento da chegada do magnífico Ford Prefect do meu Pai, que tantas vezes, em viagens infindáveis, pela noite ou nevoeiro fora nos levou às Beiras nos anos seguintes.


Aqui estamos nós, os quatro, comigo à direita.
O grito da minha Avó “Vem aí a vossa Mãe!” e depois aquela imagem cinematográfica do carro a subir a rua e a parar, triunfal à porta da casa de Silvares.
Depois não há mais nada. Nada até chegarmos ao Porto, noite dentro, como tantas vezes depois desse dia, a dormirmos todos no carro e estremunhados a entrar pela cozinha daquela que foi durante tantos anos a minha casa! Enorme!
O tempo se encarregaria de a fazer diminuir…
Já lá vamos… para que a conversa não seja como de costume, confusa e difícil de seguir… já lá vamos ao Porto, à minha nova cidade!

quarta-feira, junho 10, 2009

Um Caminho.1


A pergunta inicial é simples:
Como é possível envelhecer e morrer sem saber a idade?!

Que fenómeno estranho nos faz negar o espelho e olhar o mundo com os mesmos olhos de quando tínhamos pouco mais de vinte anos?
E ao mesmo tempo ver passar por nós os olhares do outros, na confirmação implícita da grande inevitabilidade.
De um lado, este espectador sem tempo, este jovem decidido… do outro, do lado de quem passa, o tipo gordo, com o fim anunciado do seu cabelo outrora muito… os seus olhos gastos… as palavras perras.

Sentado na esplanada do café, a olhar o Tejo, esse rio estranho, tão diferente do meu Douro umbilical.
Cansado, quase vencido pelas escolhas que não fiz, ou que fiz contrafeito… apetece-me pensar no caminho… e também nas outras escolhas… as que me vão dando o prazer da vida.
Onde é que tudo começa? Não esse princípio supremo da primeira respiração perante a luz… ou ainda mais atrás, mas onde tudo começa a complicar-se.
Qual o primeiro nó a desatar. Qual a primeira dificuldade em engolir o soluço…

Qual a razão da busca, quem se busca….
Qual o colo que se procura… qual a mão que se deseja?!

Vale a pena contar esta história? Vale a pena este pedaço de vida?
Que adiantámos nós, comuns dos mortais, à salvação da espécie?
Que é que ficará de nós depois da grande fogueira cósmica?
Quem sou eu, este que agora se dedica a pensar em si?
Para onde vou? Vale a pena sequer continuar a ir?

Pensar assim, nestas coisas, é fazer o balanço necessário para prosseguir viagem. Por isso, vamos lá!

Sempre achei que um bom livro se começa pelo título. Porque um bom título é a primeira parte do plano genial.
E a verdade é que não me ocorre nenhum título genial para este caminho…

E, sendo assim, lá vou à procura dos meus passos. Pode ser que me ocorra o nome certo.
Entretanto, aproveito e vou sentindo a brisa de Lisboa, essa terra que não é minha, e inalando o cheiro estranho da saudade…
Pode ser que entretanto a coisa surja, o tal plano genial…