
sábado, dezembro 29, 2007
2008

sexta-feira, setembro 21, 2007

Perdemos a compostura... trocamos os papeis... caimos em tentações sem sentido... roubamos o martelo ao juíz.
sexta-feira, agosto 03, 2007

Fico doente com esta estória de ver Portugal a arder...
É o sinal mais que claro que este País é de palha!
Que este País não tem solução à vista!
Um País onde todos sabem o porquê das coisas e onde todos enterram a cabeça na areia durante 9 meses enquanto nos 3 restantes se assobia para o ar, com os pés na água do mar com o País profundo a consumir-se em chamas.
É o fado dos bombeiros em correrias desenfreadas para evitar que arda hoje a floresta que arderá amanhã.
É o fado das teorias sobre a reflorestação, sempre anunciada e todos os dias adiada para quando não for mais que "florestação".
É o fado dos culpados e das vítimas...
Dos que perderam tudo por terem tudo nos locais mais inimagináveis!
A guerra das celuloses contra os parques nacionais...
A guerra da construção sem ordem contra os PDM's e as áreas protegidas.
São os lobbys dos materiais de combate ao fogo, de aviões de aluguer contra a limpeza das matas, os planos de protecção ambiental...
E outros interesses... muitos e mesquinhos... de gente que gosta de ver arder...
Portugal tem uma especialidade: Assassinar galinhas de ovos de ouro!
Quando não houver mais nada para arder... nem o lixo que fazemos... pode ser! Pode ser que Portugal seja possível!
domingo, julho 15, 2007

estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia
chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a
é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece
MÁRIO-HENRIQUE LEIRIA
Porque acreditar vale sempre a pena!
Porque não podemos nunca baixar os braços!
É por isso que eu acredito que vale sempre a pena votar!
Votar é também resistir!
Podem-me comer... mas resistirei sempre!
Em Lisboa, hoje, muitos optaram por desistir e ficaram, provavelmente deitados, à espera da velha gulosa...
Enquanto sentir que tenho sumo... recuso-me a ficar deitado!
Mesmo que me chamem... ovelha negra!
sábado, julho 07, 2007

sábado, junho 23, 2007
sexta-feira, junho 15, 2007

sexta-feira, maio 25, 2007

Agora... é só começar a preparar a anexação ao reino de Marrocos!
Inshalá!
sábado, maio 19, 2007
dois temas...

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sexta-feira, maio 18, 2007
O refinado preguiçoso...
terça-feira, abril 24, 2007
A memória curta....

É provavelmente uma defesa natural do "homo lusitanus".
Uma forma inconsciente de ultrapassar a angústia existencial, este estar aqui sem conseguir mudar o mundo, ao menos o seu pequeno mundo interior...
Quando era miúdo as realidades eram outras. Já havia fome, mas, ao contrário do regime, era muito mais democrática.
Os miúdos de barriga cheia eram menos e transportavam com enfado e desdém os seus farnéis para a escola (na altura muito mais pública).
Quando à hora do lanche se abriam as sacolas para tirar o pão com marmelada ouviam-se alguns colegas, de imediato, com a tradicional expressão tripeira "dá-me uma buca".
E a gente dava. Dava uma, duas ou três até não ter mais, porque ao chegar a casa havia comida na mesa... e para outros, nem sempre ou poucas vezes.
A fome tinha rosto de criança... era subtil, de riso fácil e revolta tranquila.
Tinha sapatos furados, quando havia.
Não tinha sacola e livros nunca... e mesmo escola...
Repetia os anos sem rancor pelo sistema e carregando a cruz das aprendizagens difíceis, como se se pudesse aprender de barriga vazia.
E calava-se. Aguentava sossegada que o Pai era tirano e tinha mau feitio...
A miudagem aguentava, nesta alegria pobre e, talvez por isso, alucinada...
E assim, quando chegou Abril, eu achei que era tempo de mudança.
Não tinha, até aí, tido a necessidade de criticar o sistema e sofrer na pele a falta da Liberdade...
Era miúdo e as minhas preocupações eram outras. Vivia ainda no tempo de D'Artagnan e Lagardere... e obcecado pelos livros dos cinco e pelos gelados Olá e Rajá nas praias possíveis da Leça da Palmeira.
A guerra colonial tocava-me ainda marginalmente, quando os Tios de Angola nos visitavam, de longe a longe (carregados de novidades japonesas) e quando a minha mãe nos seus suspiros aflitos nos imaginava, ainda pouco homens, no combate contra os terroristas...
No Natal percebíamos que já havia mães a viver a angústia ao ouvir as mensagens de Natal.
E tínhamos Fátima em directo pela TV.
Dias de Maio intermináveis com a família reunida à espera de um andor...
E gente de joelhos esfolados, em sangue, a cumprir as promessas dos outros... a prometer pelos outros... pelas vidas que não lhes pertenciam...
Por isso, também, gostei dos tempos de mudança...
Passaram muitos anos... desde Abril de 74. E continuo a lembrar com uma lágrima nos olhos os dias que vivemos.
Nas mudanças mais subtis - como o copo de leite para todos na cantina do nosso ciclo preparatório - como nas mais profundas...
Quantos de nós, hoje, imaginariam um ano inteiro de trabalho sem férias pagas?!
Quantos de nós imaginariam não poder discutir a temática das pensões de reforma, por não haver pensões de reforma...
O País era pobre. Continua pobre...
Mas a nossa maior pobreza, é, seguramente, a nossa fraca memória!
E por isso, hoje, quero lembrar Abril! Lembrando o dia 24 e o dia 25!
Porque um só faz sentido a seguir ao outro!
Porque afirmar a liberdade importa, sobretudo quando sentimos a injustiça do silêncio.
25 de Abril, não se nega. Goste-se ou não do País que daí nasceu, é por ele que podemos, ainda hoje, gritar o que pensamos!
Hoje... mesmo que nos apetecesse... ninguém cala os outros!
E ninguém nos cala a nós!
domingo, março 25, 2007
segunda-feira, março 05, 2007
O fruto proibido!

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Nada pior do que a falta de pão... para que todos ralhem sem ter razão!
E o problema agrava-se quando, tradicionalmente, alguns tinham o hábito infeliz, (ou porque são mais atrevidos, mais resmungões ou apenas lambões), de açambarcar o pão dos outros.
A raiz do problema está no facto da distribuição dos recursos andar ao sabor da vontade dos governos da Nação.
Não é um problema de cada governo em particular, apesar de reconhecer que a distribuição pode seguir critérios desviantes, mas da organização do País.
Mas desde quando não foi assim?!
Há já alguns anos os Portugueses optaram (através de um referendo de carácter vinculativo bem discutível) por enfiar na gaveta da indiferença o projecto de Regionalização.
Os pretextos foram os do costume... que ia aumentar a corrupção, o compadrio político, a despesa pública.
Acrescem ainda os argumentos sobre a unidade Nacional, a indivisibilidade da mais velha Nação da Europa...
E um enormíssimo Etc.
Enquanto isso, por artes demoníacas, o Tio Alberto João foi furando a ilha de lés a lés, fazia um aeroporto com Betão para cimentar o país todo, e consolidava um sistema de "empregamento regional" capaz de garantir as suas fantásticas vitórias eleitorais.
Financiava os clubes da região, os jornais da sua propaganda, as TêVês do seu contentamento.
Ao inviabilizar a regionalização do nosso querido Portugal, criava-se espaço para envios mais volumosos de capital para a pérola do Atlântico.
Por cá, com o projecto da regionalização na gaveta, provavelmente deixou de haver corrupção, os autarcas apresentam as suas parcas declarações de rendimentos a tempo e horas, não desviaram fundos da rés pública, não empregaram familiares... não têm ligações duvidosas a clubes de futebol, nem situações de promiscuidade com a construção civil...
Nada disso!
Com o "arquivamento" da regionalização tudo anda sobre carris!
Ou seja...
Os desmandos do Tio Alberto, justificam-se a si próprios.
Provam que a melhor forma de fazer política é na boa tradição do Nacional espertismo.
Vale tudo! Insultar o Presidente da República - o Sr. Silva - chamar ladrões aos membros do governo, anormais aos juízes, cretinos aos jornalistas, enfim a todos os poderes do estado democrático.
O único poder que ele aceita, para além do seu, é o de Deus e mesmo assim, desde que ande sossegadinho. (E não se lembre de inventar padres esquerdistas).
Como me custa ver que tantos anos após o referendo da regionalização ainda não tenhamos compreendido que a única forma de gerir um País é a responsabilização de cada uma das suas partes (leia-se regiões).
A única forma de poder fazer um País mais solidário, não passa pela atribuição de orçamentos megalómanos aos Bébés chorões da Política à Portuguesa, mas sim à distribuição racional dos recursos e das competências por cada região, respeitando como é evidente, os critérios de solidariedade que o facto de sermos um País impõe.
A última do menino birrento é convocar eleições antecipadas para poder provar a todos os energúmenos do continente que quem manda na Madeira é ele!
Assim como assim, sempre consegue dois anos extra para enfrentar os tempos das vacas magras...
Prevê-se um chinfrim capaz de irritar os mais santos dos santos.
domingo, fevereiro 11, 2007

Hoje o País adormece mais tolerante!
e amanhã... acorda com esperança!
E eu acredito que a Natália, hoje, se sentiria ainda mais orgulhosa em Ser Portuguesa!
Um dos seus grandes combates teve agora um dia grande, com o Povo a reescrever a história.
Obrigado Natália Correia pelo teu exemplo de cidadania e inconformismo que nos provou, sempre, que ser Mulher é ser mais alto!
a João Morgado (CDS)
«O acto sexual é para ter filhos» - disse, com toda a boçalidade, o deputado do CDS no debate anteontem sobre legalização do aborto. A resposta em poema, que ontem fez rir todas as bancadas parlamentares, veio de Natália Correia. Aqui fica:
Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o orgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.
NATÁLIA CORREIA
Diário de Lisboa, 5 de Abril de 1982.
sábado, fevereiro 10, 2007
domingo, fevereiro 04, 2007
O Aborto

Segundo a enciclopédia de Medicina da selecções do reader's digest um aborto é:
"Perda do feto antes da 22ª semana de gravidez ou antes da sua viabilidade (capacidade para sobreviver fora do útero)"
É claro que nunca se utiliza a palavra bébé... filho... criança... anjinho e por aí fora.
Sabiam que, abaixo de um peso específico, os médicos nem consideram a hipótese de entregar o feto aos pais... é pura e simplesmente tratado como qualquer outro produto para incineração?
É também claro que medicamente se entende que um prazo nunca é exacto... mas estamos a falar de 22 semanas contra as 10 semanas que estamos a referendar.
E porquê 10 semanas?!
Chegam?!
Muitas vezes, a esmagadora maioria das vezes, é mais que tempo para a mulher saber que está grávida, que algo correu mal no seu método contraceptivo.
É o tempo necessário para ter já pensado mil vezes se leva ou não a gravidez a termo... e... muitas vezes... ter decidido que não!
E hoje, com a lei que temos... JULGAMENTO E HUMILHAÇÃO!
Porque mesmo muitos dos que dizem que não pode ser discriminalizado, entendem que a prisão é uma pena exagerada...
Basta a humilhação pública no pelourinho dos jornais!
E tudo isto por um acto que se situa no cinzento da dúvida!
E tudo isto por algo que todos nós já vimos ou soubemos acontecer!
Por isso, voto SIM!
Vamos falar de direito à maternidade! De direito à escolha!
Mas, primeiro, acabemos com a humilhação e votemos SIM!
quinta-feira, janeiro 25, 2007
Quero ser a gota de água!
O meu Amigo João Lopes, do blog http://www.o-observatorio.blogspot.com/ disse-me um dia, quando me deu o pontapé necessário para me iniciar nesta coisa da “blog-o-esfera” que um texto, para ter algum sucesso, não poderia ser muito longo.
E eu sei, acabei por verificar, que isso é bem verdade.
No dia a dia não temos tempo a perder e, por essa razão, não damos tempo a textos mais longos. Abrimos este e aquele blog, damos uma espreitadela rápida e partimos para outro, depois do comentário mais ou menos convencido…
Mas hoje… no intervalo do que ouço, apetece-me escrever, que é mais ou menos a mesma coisa que falar comigo…
Apetece-me passar a noite toda a discutir um tema que me preocupa… e me preocupa apesar de, e talvez por isso, não ser mulher.
A questão da despenalização da interrupção voluntária da gravidez, o tal de aborto que os partidários do NÃO tanto gostam de lembrar, incomoda-me.
Incomoda-me porque é um sinal dos tempos!
A prova de que vivemos num mundo de mentira, numa época de hipocrisias disfarçadas de moralismos e de respeitos intermitentes pela vida.
Hoje ouvi um médico, ginecologista, defender o não, a pretexto de que, às dez semanas de gestação, um feto já é uma vida, devidamente “ecografável”, onde podemos ver uma futura criança.
Não pensa assim quando falamos do filho de uma violação. Essa criança, provavelmente, já não é para ele tão digna de respeito como o filho de uma relação de prazer mais explícito.
O mesmo médico, entende que a despenalização do “Aborto” vai onerar todos os contribuintes. Que as clínicas privadas passarão a facturar à nossa custa!
Até onde vai a vontade de distorcer os factos?!
Será que não é possível defender o não baseado apenas naquilo em que se acredita?!
Quando, um dia, porque um dia assim será, a interrupção voluntária da gravidez não for crime, poder-se-á recorrer a clínicas privadas sem o medo do castigo… mas cada um pagará o seu aborto!
Se recorrerem a um hospital público, é verdade que pagaremos todos… mas não pagamos já?
Alguém se preocupa em rastrear os custos do tratamento das complicações dos abortos ilegais?
Será que os argumentos contra a despenalização não têm por trás o princípio milenar de que o que é proibido é, necessariamente, mais caro?
E de que não é por ser mais caro que acontece menos?
A questão da despenalização da interrupção voluntária da gravidez é o último grande combate pela “autodeterminação” da mulher enquanto cidadão.
Durante milhares de anos deu-nos – a nós, machos “procriativos” – imenso jeito que a mulher engravidasse. Era assim uma espécie de maldição punitiva pelo pecado original que servia para segurar ao miolo da caverna a potencial “galdéria”.
O Homem partia para a caça, mais ou menos garrido com as suas pinturas tribais, acampava pelo mundo, invadia territórios alheios, violava as mulheres dos menos afortunados e, quando voltava para a sua gruta lá encontrava as mulheres e a prole, encostadinhos à pedra do Lar, à volta do calor do fogo…
Depois, bastava apenas cumprir a função. Atingir o seu orgasmo breve e solitário e garantir o sossego da fêmea enquanto os novos caçadores cresciam…
Outros tempos…
Mais tarde, a mulher deu-se ao luxo de pensar - que isto da escuridão das grutas é para o que dá – e, de forma subtil mas persistente foi introduzindo cambiantes fatais na relação humana.
Terá inventado a dor de cabeça como primeiro método de planeamento familiar… (e nem quero imaginar as lambadas, as mordidelas e outras fantasias masculinas para contrariar a maleita…), descobriu o poder das luas, a sua força nos seus ciclos vitais (e com isso desenvolveu a suas capacidades lógico-matemáticas, a astrologia…), a força do diálogo, nem que fosse preciso inventar mil e uma noites de fantasias…
Porque milhares de vidas à volta de caldeirões fumegantes dão força à magia… descobriu poções, métodos capazes de adiar os filhos (e de os desfazer quando tarde fosse…), descobriu que esse deus punitivo dos fins do paraíso não havia fechado as portas todas…
E descobriu também… a força do prazer.
Reinventou o sabor da maçã!
Porque nem só de dores de cabeça se faz, ou pode fazer, o universo feminino.
E, com esse prazer carnal, à volta do pecado original, regressa sempre o problema inicial:
Que é a capacidade, ou não, de decidir o momento certo para a maternidade…
O problema, até pode nem ser meu… (fosse eu capaz de ser assim, tão distante, da mãe que nos gerou…)
O problema pode até ser apenas das mulheres…
Mas se é assim… porque nos preocupamos tanto em julgar?!
Mais… em castigar!
Porque, ao votarmos (ou não) no próximo referendo, estaremos apenas a decidir o mais importante:
É crime?!
Deve ser castigado?!
Por isso voto sim! Um sim ao direito a escolher!
Mas que é um não, muito claro, ao castigo!
Os que votam não… terão os seus telhados cheios de pedras para atirar aos outros… e por isso, na provável culpa do remorso antecipado, vão inventando desculpas fáceis para acusar os outros… as descuidadas… as galdérias… as inconscientes… as promíscuas… as lascivas… as desprevenidas… as esposas submissas (incapazes das milenares dores de cabeça)…
Ou podem, apenas, não estar a ver o problema… ou nem querer saber…
E Deus… esse grande Deus capaz de perdoar… vai vendo o filme passar, no desenrolar fantástico do grande livre arbítrio, forja do melhor e do pior da humanidade…
A vida, no gesto criador, está muito para além da biologia… repousa sobretudo no direito à escolha!
É nisso que acredito!
Por isso voto SIM! Um SIM à liberdade de escolha.
Um SIM à responsabilidade!
Porque ser MÃE é uma coisa muito séria!
segunda-feira, janeiro 15, 2007

O que me safa é que não costumo ter sonhos premonitórios.
É mais do tipo "medos recalcados":
Bom. Mas vamos ao que interessa: O Sonho, ou seja, o pesadelo.
Era dia de referendo... à noite... depois da contagem dos votos dos Açores... e o Sim perdia!
E depois?!
De facto eu até nem pretendo fazer nenhum aborto!
Até estou a descobrir que uma atitude assim mais do tipo "salve-se quem puder", os pobres que paguem a crise, traz vantagens interessantes.
Mas... havia uma ideia que me atormentava no reino de morfeu. Onde é que o País iria enfiar todas as pecadoras e seus cúmplices.
Foi então que o pesadelo se transformou em sonho perfeito.
Mas qual OTA, qual TGV!
O que o País precisa é de uma mega-prisão.
Uma grandiosa obra de regime, com quilómetros e quilómetros de betão e ferro, muita mão-de-obra ilegal para engordar o sistema e montes de novos funcionários prisionais para resolver o problema do desemprego.
E missas! Muitas missas para manter o povinho sossegado, em lume brando...
Bem no meio, uma grande catedral, construída pedra a pedra pelos meninos do rio, mandados vir de propósito do Brasil, em homenagem ao milagre da reprodução e da mão-de-obra barata.
Nas escadas da porta principal, pedintes, milhares de pedintes, ao serviço da nossa caridade... funcionários abnegados (os pedintes) da profissão de fé e do sexo original... antes das modernices blasfemas do uso do preservativo. Infectados, como convém em tempo de milagres...
É que, lá dizia o outro - numa versão livre - "o que é preciso é haver, ao menos, uma droga legal".
domingo, janeiro 07, 2007
Psicanálise da luta dos índios contra os cowboys…
Que os outros não compreendam, é natural, entende-se e é explicável pela falta de visão de conjunto. Pela não participação no processo do nosso crescimento.
Nós só conseguimos ver uma pequena parte da realidade… e é provavelmente essa uma das razões de tantas diferenças de opinião.
O estranho é quando nos apercebemos, de súbito, que num dado momento da nossa vida algo mudou, tendo essa pequena mudança originado uma série de acontecimentos em cadeia que levou à formação de uma outra personalidade, bem diferente do expectável.
Houve um momento em que tudo levaria a acreditar que este sujeito que escreve estas linhas seria um defensor implacável do sonho Americano.
Recordo os primeiros livros, a formação “Enid Blyton” dos meus seis anos de primeiras letras, que se estendeu por alguns anos de infância. Com eles desenvolvi o meu desejo de aventura enquanto percebia que os Amigos fazem parte da história toda. E que sem eles, a história não tem sentido!
A seguir veio o Buffalo Bill, o David Crocket e o David Carson.
A ideia de que o mundo era um território imenso a descobrir e desbravar, empurrando a barbárie para reservas bem controladas enquanto a civilização avançava implacável.
De súbito, a criança que se imaginava num mundo de aventuras sob controlo, passou ao mundo exterior, ainda que num passado mais ou menos longínquo.
E porque todos todos nós aprendemos fazendo, dos bonecos dos gelados Olá, mimetizando os livros dos cinco nas construções dos legos, fomos passando às cowboyadas de rua, com tiros de imitação e a eterna recusa em fazer o papel do índio, entregue invariavelmente ao mais desejoso do apoio do grupo.
Para poder continuar em casa - fora de horas e às escondidas dos pais - a brincadeira preferida, à saída da escola, em vez de apanhar o autocarro de regresso, mentíamos aos pais e regressávamos a casa a pé, quer chovesse ou fizesse sol, para poupar os 2$50 do bilhete.
E a poupança desfazia-se no Bazar dos três vinténs, no balcão do far-west.
Comprávamos os índios e os cowboys (mais dos segundos, sempre, que dos primeiros, para manter a possibilidade de vitória) e iniciávamos a explicação do nosso mundo infantil.
O mundo girava em torno desta guerra civilizacional de plástico, alegoria pueril da nossa imaginação.
Vista à distância, não posso deixar de reparar na ironia do mercado: Um índio custava tanto como um cowboy… (5$00 – duas viagens de autocarro) e a única diferença no preço era o cavalo… sendo que um índio a cavalo valia tanto como um cowboy montado. (exactamente 10$00, ou seja, 4 viagens de regresso a casa).
Com esta criação do mundo, estreei-me na matemática aplicada à vida e compreendi que tudo se constrói peça a peça, mesmo quando se trata de construir um novo mundo.
Ao fim de algumas semanas (estimo que cerca de 60 – o que equivale a dizer 2 anos de ciclo preparatório, descontando as deliciosas e intermináveis férias de verão, de natal e Páscoa) eu e o meu irmão tínhamos um exército colonial à maneira e muitos, mesmo muitos, inimigos a combater.
Com ajuda externa fomos possuindo tendas para os índios e casas para os cowboys, até que um dia construímos, no pátio da nossa casa, o forte dos cowboys.
Mas, ironia das leituras, o tempo que vivia ajudou-me a descobrir outros universos.
Júlio Verne substituiu Buffalo Bill e o miúdo dos doze anos encontrou outras perguntas…
Com o passar dos meses, enquanto os nossos "Bills", os "Kits" e "Crockets" iam vencendo os "nuvens negras", os "bocejos de urso" e outros personagens da nossa imaginação, fomos perdendo o sentido posicional e ganhando afeição pelos fracos.
E um dia, num daqueles domingos estremunhados sem programação televisiva capaz de acalmar os putos, juntámos a pólvora dos cartuchos de caça do vizinho do lado e planeámos a revolta dos índios.
Minámos o forte (o tal que nos tinha custado semanas a construir), colocamos os cowboys em pontos estratégicos e posicionamos os índios nas redondezas, de forma a poderem assistir à grande batalha.
Quando não havia vizinhos nas imediações riscámos o fósforo, acendemos o rastilho e sentámo-nos a assistir à vingança dos oprimidos.
O forte ardeu, todo, os cowboys derreteram em pequenas chamas azuis até serem apenas insignificantes coágulos de plástico no chão e, durante largas horas, abateu-se sobre a casa um cheiro nauseabundo a morte.
E depois… perdeu a graça!
Nos anos seguintes, a imagem dos cowboys aos gritos foi-se apagando da minha imaginação, até que ontem, acordei estremunhado e compreendi porque razão a minha brincadeira favorita tinha acabado.
Para terminar, uma referência a uma das personagens que mais me marcou:
O resto… fica apenas para a vossa imaginação!...