sexta-feira, fevereiro 17, 2006

O Vasco Granja


Ao ler alguns comentários recentes a artigos deste blog lembrei-me de um assunto que me parece interessante partilhar convosco.
O meu Amigo Marco, na brincadeira, enviou-me cumprimentos do Vasco Granja (tratava-se de uma resposta a uma "boca" do Óscar.
Daí até entrar no saco fundo onde guardo os meus neurónios responsáveis pela memória, foi um salto de pardal.
A minha Amiga Sulista respondeu perguntando se nós conhecíamos o Vasco Granja, o que, infelizmente, não é totalmente verdade.
Conhecemos, mas apenas do pequeno ecran...

Dei um pouco aos dedos na internet e descobri que o vasco Granja tem 77 anos, que é a idade em que Hergé achava que a BD deixava de ser leitura interessante.

Quando eramos miudos e queríamos ver os bonecos tínhamos que esperar pacientemente.
A oferta era escassa. Resumia-se a uns breves 15 minutos diários de Super Rato, de speedy Gonzalez ou de Bip Bip.
Aos domingos tínhamos o prazer sublime de ver cinema de animação por um período mais longo, com o Walt Disney a apresentar os seus herois.
Estes momentos curtos espicaçavam ainda mais o nosso interesse. De tal forma que uma ida ao cinema para ver o Ben-Hur ou os 10 mandamentos tinha o momento mágico na animação inicial.
Era lindo!
Foi aí, já depois do 25 de Abril, que apareceu o Vasco Granja. Com desenhos do outro mundo. Uns melhores... outros nem por isso.
Variedade e muito mais tempo para rir.
Bonecos feitos de tudo. De plasticina, de cordel e de muita imaginação.
Mas havia vida para além da animação...
Divertiamo-nos a ver o cartaz TV (a minha filha nem quis acreditar que conseguíssemos passar uma hora por semana a ver a programação dos dias seguintes).
O “Se bem me lembro” do Vitorino Nemésio era magnético para mim.
E as séries não eram diárias como hoje são as telenovelas. Eram semanais.
Uma das que recordo com mais nostalgia era “Casei com uma feiticeira”.
Há alguns dias, ao ver a reposição no canal 2, fiquei em estado de choque ao saber que a protagonista já tinha morrido (de velha!).

Todo este palavrado revivalista serve um propósito fundamental: reflectir sobre os efeitos da escassez e os efeitos da abundância.

Quando a oferta era pouca. Usavamos os nossos tempos de espera ansiosa a fazer construções com Lego, a ler os livros dos "Cinco" (li mais de vinte vezes "os cinco voltam à ilha"), bem como dos "Sete" e a fazer aquelas coisas que enlouqueciam os nossos Pais.
Nos momentos em que a televisão nos dava o que queríamos, aproveitávamos ao máximo.
E depois...
Ouvíamos música... mas como tínhamos poucos LP’s (por acaso nem tenho saudades do vinil), cada disco era tocado até só se ouvirem as batatas a fritar.

Hoje que a oferta é muita, provavelmente excessiva, valoriza-se pouco o que temos. Usamos demasiado tempo em frente ao televisor a fazer “mappling” e “zapping” e achamos que os momentos que temos entre estas actividades e os computadores são enfadonhos e difíceis de suportar.
Como Pai, acho que nem sou dos que terão mais razões de queixa. A Joana lê bastante, gosta de conversar de viva voz com os Amigos. Ouve música (até bastante audível) e sabe divertir-se... Nem liga muito à televisão.

No entanto... reflito muitas vezes sobre esta questão: devemos restringir o acesso à internet e à televisão aos nossos filhos?
Tenho Amigos que têm horários apertados para cada coisa. Faz sentido?
É que eu acho que é proibido proibir... mas também não gosto de excesso de facilidades...

14 comentários:

Anónimo disse...

Sinceramente acho que algumas dificuldades são importantes. As coisas estão muito facilitadas. Embora os horários dos miúdos sejam enormes, as exigências fora da escola idem( as explicações, a música...) existe qualquer coisa que falta. Eu nem sei se são bem dificuldades, pois pensando bem os miúdos têm trabalho. Acho que faltam sobretudo regras..Regras na escola, regras em casa.. e esforço para conquistar as coisas.
Lembro-me bem do vasco granja. De vez em quando vai à televisão. COntinua no mesmo mundo. O mundo da animação. Mas parece-me não muito lúcido, fechado mesmo nesse mundo.Espero estar enganado. Do programa dele recordo sobretudo a loucura do TEX Avery e claro "o Koniec" ( já não me lembro se era assim que se escrevia.)

Zel disse...

Somos praticamente da mesma idade, e sentimos e recordamos os mesmos momentos, claro que com pouco ficávamos satisfeitos, a oferta era sempre a mesma, mas o que víamos na televisão era sem dúvida mágico.

Os nossos filhos se calhar irão dizer o mesmo, a diferença é que não tínhamos tanta oferta, tanta atenção, tanta protecção, se calhar alguma exagerada, não sei!

Uma das minhas filhas, já é uma senhora, vamos ver se a segunda lhe segue os mesmos passos, ficava feliz

Bom fim-de-semana

Blogexiste disse...

Xiiii!!! Isto fez-me lembrar que em tempos também fui miudo. Numa aldeia do Portugal Profundo onde durante muitos anos até o arco-íris era a preto-e-branco.

Anónimo disse...

Era cada seca que apanhava-mos com aquelas marionetas de leste a que chamavam desenho-animado. Que ansiedade até aparecer alguma coisa de jeito.
Figuras ridiculas que os novos "democratas vermelhos" faziam! Lembro-me de outra: - ouvir o Sergio Godinho a cantar uma tal canção de recatreca-recatreca, recatreca... tocou-a seguida mais de 3 vezes.
Mas o que é isto para um

Parolo

Anónimo disse...

Errata parola - apanhavamos
que se dane! Paroladas!

Parolo

Eduardo Leal disse...

Reconheço que para muitas crianças alguns (e destaco "alguns") dos desenhos animados eram um pouco enfadonhos.
Isso era assim porque se tratava de animação experimental, com o desenvolvimento de técnicas curiosas que estão hoje na base de alguns dos melhores filmes de animação.
O problema é quando certas mentes mais limitadas colocam um rótulo antes da sua capacidade de apreciação crítica.
É tanto mais triste, quando percebemos que o rótulo já era familiar (colocado pelo pai ou pela mãe) e condicionou assim a mente da criança que hoje, talvez por isso, acaba por ser um parolo, que ao menos, valha-nos isso, sabe a diferença entre "apanhava-mos" e apanhavamos.
Parece desprezível mas quando se aplica a acções diferentes pode ser origem de muitos contratempos.
Por razões de decoro, não digo alguns dos verbos em que pode ser mal interpretado o equívoco.

JL disse...

As memórias que este artigo me despertou.
Mas julgo que encerra um conteúdo maior do que aquele que se confina aos desenhos da URSS que o "amigo" Vasco nos mostrava.
Havia mensagens, nesses desenhos animados, encapotadas. Como julgo que fica um pouco encapotada outra mensagem que abordas e valeria a pena explorar, como só tu sabes fazer, noutro artigo.
Refiro-me, naturalmente, ao facilitismo de hoje em que tudo é colocado à frente das crianças sem que as leve a pensar. E proibir, como bem dizes, não parece a melhor solução.

Realknight disse...

Caros, apesar da minha "tenra" idade eu tb me lembro disso.
Acho que todos aqui podem desfrutar deste site:
http://www.misteriojuvenil.com
Por vezes está em baixo, mas lá podemos encontrar os sons que fizeram a nossa infancia.

Anónimo disse...

Olá,
venho uma vez por outra ao vosso blog, o que me agrada bastante, não só pela diversidade de temas, como também, pela forma como são narrados. Um espantinho!!!
Vasco Granja....eu também ficava pregada á TV á espera dele....
um beijinho da
Teresa

Anónimo disse...

Força, força, camarada Vasco, nós adorávamos os teus bonecos, na verdade infelizmente pouco animados, mas o importante era a mensagem, coisa que lixava os faxistas, pá!

Por falar em desenho-animado, alguém viu a figurinha do pai da criança “raptada!!!”?
Eu não cheguei a ver a mãe, mas dizem que a personagem era precisamente do mesmo filme!
Raio de faxismo-salazarista, pá, que produziu filmes como este.
E a camarada Fátima, Felgueiras de Felgueiras, foi a Fátima, pá! Só faltava o Futebol, pá, porque deste fado vive o povo! E o povo é quem mais ordena!
Mas eu continuo na minha, pá,
Votar é mijar contra o vento!
25 de arbil sempre – 32 anos de evolução, perdão, revolução, pá!
Viva a democracia - Lembrei-me duma engraçada que os faxistas gostam de dizer só para nos xatear, pá : Se um ignorante diz que 2+2, são seis, e um sábio afirma que 2+2 são quatro, logo aparece um terceiro que em prol da moderação diz que dois e dois são cinco!

Desculpe lá o pá, sr. Eduardo mas foi um revivalismo saudosista-revolucionário que me fez recordar tempos áureos!

Oscar

Anónimo disse...

"Caro" Oscar,

faxista é de fax???
para alguém tão politicamente informado,parece estranho não saber escrever fascista!!!

Maria Cota disse...

Este texto transportou-me para essa época mágica em que o amigo Vasco Granja nos deleitava com desenhos animados da ex(!) Checoslováquia!
E o "TV Rural" com o Engenheiro Sousa Veloso? Sempre naquele tom paternalista e pedagógico a dissertar sobre a pluralidade do mundo rural, como se isso fosse sequer interessante;)
Também era uma fã incondicional da Enid Blyton e dos seus "Famous Five". Mais tarde, passei para a colecção "Uma Aventura", mas os Cinco tinham de, facto, algo de ritual iniciático!
Há uns tempos fui à Livraria Salta-Pocinhas (fantástica, devo dizer!) e perguntei à livreira se ainda se vendia a colecção da Anita, tão indissociável do imaginário feminino! Ao que ela respondeu com uma clarividência desarmante: "Sim, mas mais por saudosismo dos pais".
Sinais dos tempos...
Ass: uma mulher do quase-Norte;) (Será Viseu Norte?Creio bem que sim!)Private joke!

Anónimo disse...

"Caro" anonymous
Fascista escrevem os fascistas
Fassista escrevem os nazis
Faxistas escrevem os camaradas dos Vascos.
Mas agradecido na mesma.
Só lhe fica bem essa preocupação com os camaradas mais incultos, ou será incautos!

Vais-te embora mamã, não me deixes aqui, adeus mamã, pensaremos em tí!

Este é um desenho-animado fascista, percebe anonymous? |

Oscar

Penélope disse...

Ohhhh, que saudades do «amigo» Vasco Granja!
A minha história e a dos meus irmãos não prescinde de uma referência ao programa por ele apresentado - aqueles desenhos animados eram mágicos, didácticos, divertidos e diferentes dos outros (e nós tínhamos acesso á tv Espanhola!).
Gostei deste post, vou voltar mais vezes.
Penélope