segunda-feira, fevereiro 20, 2006

A Democracia é o pior de todos os sistemas...


Há temas que, invariavelmente, levam a uma grande crispação.
De todos, aquele que me parece mais frequente na criação desse estado de espírito, aqui traduzido em estado de letras, é a política.
Mais do que o tema religioso, o tema da homossexualidade e do casamento entre “gays”, do tema do aborto, do tema dos cartoons e da terrível guerra dos mundos, cada vez que se abordam temas relacionados com a diferença entre esquerda e direita, os ânimos aquecem, surgem comentários anónimos e troca de piadas.
Ao visitar outros blogs, apercebo-me que a crispação acontece por outros lados, às vezes com diálogos irritados entre conterrâneos ou entre desconhecidos.
Muitas vezes os autores e os comentadores irritam-se (eu incluído).

Eu acredito que isso se deve a 48 anos de amordaçamento.
48 anos em que falar poderia ser um crime grave, punido com prisão, degredo ou exílio, às vezes com a morte.
48 anos em que era possível eliminar fisicamente adversários políticos.
48 anos em que não se votava regularmente e que, quando isso acontecia, votavam também os mortos, porque esses votavam sempre no poder. (o meu Pai, que era Professor Primário numa aldeia do interior, preencheu muitos boletins a mando do cacique local).
48 anos em que o estado era invadido pelos piores tentáculos da igreja.
48 anos em que os melhores da igreja eram ostracizados ou perseguidos.
48 anos em que o povo era metodicamente embrutecido para alegremente ser obediente.
48 anos em que se acreditava no pior do nosso hino e se gritava “Às Armas... às Armas” em vez de proclamar este “Nobre Povo, Nação Valente e Imortal”.
48 anos em que se afirmou o ideal da Raça num País que se poderia ter visto como multi-racial.

E depois aconteceu Abril!

E vivemos anos de loucura. Anos de deslumbramento. De excessos. De Paixões. De Esperança... e desesperanças.

Hoje, 32 anos após a nossa revolução de cravos na ponta das espingardas, valeria a pena sarar algumas feridas e, de forma mais madura, com a força dos Amores crescidos, reflectir sobre as nossas grandes conquistas.

Temos muita coisa menos boa, fruto da nossa revolução apaixonada, mas também, da nossa herança pesada.
Mas temos um grande património. Podemos pensar livremente e falar ou gritar o que nos vai na Alma.

Como diria o Poeta Cantor Sérgio Godinho numa das suas canções “A Democracia é o pior de todos os sistemas... à excepção de todos os outros”.

Viva a esquerda e a direita, porque são ambas parte da nossa condição Humana.

Possamos nós escolher sempre o lado em que queremos estar!

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

O Vasco Granja


Ao ler alguns comentários recentes a artigos deste blog lembrei-me de um assunto que me parece interessante partilhar convosco.
O meu Amigo Marco, na brincadeira, enviou-me cumprimentos do Vasco Granja (tratava-se de uma resposta a uma "boca" do Óscar.
Daí até entrar no saco fundo onde guardo os meus neurónios responsáveis pela memória, foi um salto de pardal.
A minha Amiga Sulista respondeu perguntando se nós conhecíamos o Vasco Granja, o que, infelizmente, não é totalmente verdade.
Conhecemos, mas apenas do pequeno ecran...

Dei um pouco aos dedos na internet e descobri que o vasco Granja tem 77 anos, que é a idade em que Hergé achava que a BD deixava de ser leitura interessante.

Quando eramos miudos e queríamos ver os bonecos tínhamos que esperar pacientemente.
A oferta era escassa. Resumia-se a uns breves 15 minutos diários de Super Rato, de speedy Gonzalez ou de Bip Bip.
Aos domingos tínhamos o prazer sublime de ver cinema de animação por um período mais longo, com o Walt Disney a apresentar os seus herois.
Estes momentos curtos espicaçavam ainda mais o nosso interesse. De tal forma que uma ida ao cinema para ver o Ben-Hur ou os 10 mandamentos tinha o momento mágico na animação inicial.
Era lindo!
Foi aí, já depois do 25 de Abril, que apareceu o Vasco Granja. Com desenhos do outro mundo. Uns melhores... outros nem por isso.
Variedade e muito mais tempo para rir.
Bonecos feitos de tudo. De plasticina, de cordel e de muita imaginação.
Mas havia vida para além da animação...
Divertiamo-nos a ver o cartaz TV (a minha filha nem quis acreditar que conseguíssemos passar uma hora por semana a ver a programação dos dias seguintes).
O “Se bem me lembro” do Vitorino Nemésio era magnético para mim.
E as séries não eram diárias como hoje são as telenovelas. Eram semanais.
Uma das que recordo com mais nostalgia era “Casei com uma feiticeira”.
Há alguns dias, ao ver a reposição no canal 2, fiquei em estado de choque ao saber que a protagonista já tinha morrido (de velha!).

Todo este palavrado revivalista serve um propósito fundamental: reflectir sobre os efeitos da escassez e os efeitos da abundância.

Quando a oferta era pouca. Usavamos os nossos tempos de espera ansiosa a fazer construções com Lego, a ler os livros dos "Cinco" (li mais de vinte vezes "os cinco voltam à ilha"), bem como dos "Sete" e a fazer aquelas coisas que enlouqueciam os nossos Pais.
Nos momentos em que a televisão nos dava o que queríamos, aproveitávamos ao máximo.
E depois...
Ouvíamos música... mas como tínhamos poucos LP’s (por acaso nem tenho saudades do vinil), cada disco era tocado até só se ouvirem as batatas a fritar.

Hoje que a oferta é muita, provavelmente excessiva, valoriza-se pouco o que temos. Usamos demasiado tempo em frente ao televisor a fazer “mappling” e “zapping” e achamos que os momentos que temos entre estas actividades e os computadores são enfadonhos e difíceis de suportar.
Como Pai, acho que nem sou dos que terão mais razões de queixa. A Joana lê bastante, gosta de conversar de viva voz com os Amigos. Ouve música (até bastante audível) e sabe divertir-se... Nem liga muito à televisão.

No entanto... reflito muitas vezes sobre esta questão: devemos restringir o acesso à internet e à televisão aos nossos filhos?
Tenho Amigos que têm horários apertados para cada coisa. Faz sentido?
É que eu acho que é proibido proibir... mas também não gosto de excesso de facilidades...

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

O Juíz decide... por favor...

Hoje voltei a viver uma experiência muuuuito interessante.
Fui pela terceira vez ao tribunal criminal do Porto (ao 2ºjuízo) na esperança de poder resolver um assunto já com alguns anos.

A esperança, diz o povo, é a última a morrer... e como eu sou um Homem de fé, lá fui à hora marcada.
Mas... comecemos pelo princípio.

Há cerca de 3 anos (já nem me lembro com exactidão), ao trazer a minha filha da escola para casa, ao fim do dia, presenciei uma daquelas situações desagradáveis de uma discussão motivada por complicações de trânsito.
Uma senhora já com uma certa idade (mais de 60 anos) descarregava o carro obstruindo ligeiramente a rua.
Um condutor viu-se obrigado a parar o carro e iniciou-se a habitual troca de buzinadelas (para desespero dos peões passantes) e daí aos mimos do costume foi um instante.
De súbito, saltam do interior do automóvel 2 Homens e uma Mulher que iniciam um espancamento público digno das sequelas da guerra do Iraque.
No momento em que me vi forçado a intervir (a medo, claro!) já havia sangue e foi necessário ameaçar com a polícia para que a agressora deixasse de trincar a mão da agredida.
Foi isto! O agressores arrancaram à pressa (o milagre do desentupimento do trânsito aconteceu) e eu lá acabei por deixar os meus dados, a matrícula dos meliantes e a promessa da minha boa vontade.

Não imaginava onde me estava a meter!
2 anos depois fui depor à polícia (que me agradeceu a disponibilidade) e contei esta mesma história.
Em Dezembro foi marcada uma audiência num dos tribunais do Porto. Lá fui, esperei 2h30m e comunicaram-me que por falta de um arguido tinha sido adiada para Janeiro.
Em Janeiro lá voltei a estar. As testemunhas (que agora são mais que as mães e afiançam terem lá estado todas! Milagre das rosas aplicado aos amigos dos arguidos) não faltaram... os arguidos também não, nem tão pouco a queixosa.
É preciso deixar bem claro que eu já não conseguia reconhecer ninguém!
Os advogados compareceram e por isso esperámos mais 2h e qualquer coisa (uma manhã toda à volta de coisa nenhuma).
O Juíz (ou o oficial de justiça, que eu nestas coisas da barra dos tribunais sou um leigo) mandou dizer que o julgamento ficava marcado para o dia 13 de Fevereiro.
Não perdi o tempo todo. Fiquei a saber mais umas coisas sobre chás e produtos naturais... discuti um pouco do desenrolar da última jornada futebolística, aproveitei para dar uma vista de olhos nas revistas do costume (tal qual como nos consultórios médicos) e assisti ao vivo a debates agitados (fora da sala de audiências) entre amigos das duas facções em conflito.
Senti-me tão sozinho!...
É que por acaso, eu até era o único que não conhecia ninguém.

E hoje, este cidadão armado em testemunha, lá voltou ao tribunal.

Estranho... muuuuito estranho... o tribunal à hora marcada estava quase deserto.
Fui ver... não, não era neve... era apenas um pequeno lapso do tribunal. Tinham tentado avisar-me por telefone do adiamento do julgamento, mas optaram por não deixar mensagem no voice mail.

E assim sendo lá voltarei para a semana... esperando que seja a última vez.

Uma pergunta: será que fazem estas coisas para acalmar os impulsos de cidadania?!

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Mas que mania...

Às vezes lá calha!

A mim? O tal que começa por ter a mania que continuar correntes (as correntes em sms, em email, em cartas... eu sei lá!) pode dar azar?!

A mim, pois!

A Sofia (do Blog se vê) lembrou-se de me colocar lá no seu sítio como vítima a contaminar.
Está bom de ver que só me apeteceu fazer de conta que não tinha visto o recado...
Mas quem é que consegue impedir um tipo como eu, com um ego super-alimentado, de falar sobre o seu umbigo?
Claro que falar de manias deixa um pouco a desejar... mas tudo se tenta compor.

Para começar, a primeira é mesmo a mania que continuar correntes dá azar.
A segunda é que existe uma cidade a Norte do rio Douro que é especial. O Porto claro!
A terceira é que o que faz o nosso F.C.Porto grande é a atitude! A nossa capacidade de acreditar. Sempre!
A quarta é que vale sempre a pena uma boa discussão, isto é: falar e ouvir os outros. Lembrem-se que é dela que nasce a luz!
E a última e não menos importante, é que vale a pena viver. Com espírito positivo e lado a lado com os Amigos.

E sobre os Amigos... valia a pena escrever um post. Mas fica para depois que agora estou a pensar sobre as vítimas a escolher.
Ainda pensei escolher blogs que não me visitem... assim tipo castigo.
Também considerei a hipótese de escolher visitantes sem blog, tipo Vatamico, mas era batota.
Sobrou para os mais assíduos.

E... porque o que tem de ser tem muita força...
E até quando se fala de segurança rodoviária haverá concerteza manias qb lembrei-me do Nuno Figueiredo do Sentido Proibido
Lembrei-me também dos , Contos Eróticos de Sutra um blog curioso sobre temas sempre interessantes e onde não faltam manias com toda a certeza.
O Zel da Roda de Pedra que tem tido a amabilidade de nos visitar frequentemente e agora leva com isto (valha-nos Deus! Que mania de penalizar quem nos dá atenção).
A Eva dos Delírios da Eva que entre outras coisas tem um blog que fala das ilhas mágicas dos Açores. Manias insulares não faltarão.
e... para dar aquela imagem internacionalista, mas dentro da pátria da língua de Camões... lembrei-me da Vica dos Novos Ares que de quando em quando aparece por aqui para deixar os seus comentários simpáticos do lado de lá do Atlântico... tanto mar... tanto mar... até pode ser que as manias do Brasil sejam do tipo das nossas... porque não?!

Ufa!
Nem imaginam o que sofri a colocar todos estes hiperlinks que espero que fiquem a funcionar sem sobressaltos.

Aproveito para dizer a todos os eleitos que deverão escrever nos seus blogs um artigo onde apresentem 5 manias (não precisam de ser as inconfessáveis) e escolher 5 inocentes bloguistas para continuar esta cadeia de divulgação da blogosfera.
Se algum destes blogs já foi indigitado nesta tarefa espinhosa... sei lá! Adiante!

Até ao próximo post... menos infeccioso.

domingo, fevereiro 05, 2006

Na casa dos outros...


Se fosse para dizer banalidades, (coisa que muitas vezes até tem graça), provavelmente escolheria outras vias de comunicação.
Os temas mais banais, aqueles que não nos aquecem nem arrefecem mas que muitas vezes nos fazem rir, precisam de mais presença, de mais risos fáceis.

E é por isso, porque estes espaços da net nos dão mais tempo para reflectir, que gosto de escolher temas mais controversos.
Ao ler os comentários ao meu último artigo, apercebo-me como é fácil distorcer o que pensamos.
Algumas vezes bastará um erro de interpretação ou uma leitura menos atenta, ou até, porque não, uma construção deficiente do texto.
Outras vezes, infelizmente muitas, bastará um pouco de má fé, aliada a maus instintos e atitude cobarde escondida sobre o nome de um qualquer anónimo.

Para que fique claro, esta sociedade onde vivemos, dita civilizada e ocidental tem imensos defeitos que abomino, mas também inúmeras virtudes que defendo.
Apenas não me assumo como paladino do "ocidentalismo" pelos quatro cantos do mundo. (ideia curiosa esta, dos quatro cantos, que continuamos a usar, apesar de estarmos hoje bem certos de que o mundo é redondo, ligeiramente achatado nos polos).
E antes de tratar o tema que escolhi para hoje, aproveito ainda para dizer (neste casos escrevendo), que os próprios termos "civilizada" e "ocidental" são de per si bem relativos. Para que nos assumamos como ocidentais, apenas é necessário que nos desloquemos para o lado oeste de um qualquer oriente. É sempre uma questão de posicionamento e perspectiva.

Mas... adiante!
Uma das virtudes que aprecio, na nossa velha e sábia Europa, apesar de já sem alguns dentes, (a velha Europa, claro) é a ideia de tolerância e de respeito pela diferença.
Já o disse muitas vezes, mas faço parte dos que acreditam que a Democracia é mais que o poder das maiorias. É também, necessariamente, o respeito pelas minorias.
E isto deve servir para quando estamos no lado das minorias, mas, sobretudo, para quando fazemos parte das maiorias.

E assim sendo... sendo certo que faço parte do numeroso número dos que fizeram uma opção heterossexual e, porque encontraram a pessoa que acharam adequada para partilharem uma vida comum, fizeram um contrato público que define as regras da vida em comum, não percebo porque razão, só porque faço parte de uma maioria, hei-de inviabilizar outras opções de vida.

Hoje discute-se a possibilidade de pessoas, independentemente do seu sexo, poderem celebrar um contrato do tipo do casamento.
Ouvem-se as vozes dos detractores desta medida, alegando que este tipo de casamento é contra-natura, que contraria o grande desígnio do ser humano, agora assumido como a reprodução da espécie.
É curioso verificar que muitos dos principais opositores à legalização deste tipo de casamento optarem também eles por não se reproduzirem...

Pois a mim parece-me que o principal intuito de um alargamento do âmbito da lei que define as condições do casamento é regulamentar o que já acontece de facto.
Permitir que quem opta por dividir a sua vida e também a propriedade, o possa fazer de forma clara, sem ambiguidades e constrangimentos.
Com a celebração de contratos entre pessoas, independentemente do sexo, assegura-se que quem casa aceita regras determinadas de convivência e define também o que acontece aos membros do casal quando um deles morre. Determinando a transmissão da propriedade e evitando que pessoas que viveram juntas uma vida inteira, que juntas construiram e partilharam espaços e vivências, possam ser privadas disso mesmo por outros, em nome de laços familiares.

Acredito na Família, mas acredito também que somos mais do que isso. Somos em função de quem Amamos, família ou não e isso está bem patente na lei, quando define que o conjuge, apesar de não ter connosco laços de sangue, é também família.

Porque não há-de alguém poder afirmar isso mesmo... para além da possibilidade da existência de laços sexuais?

Somos de facto uma sociedade obcecada sempre com o mesmo. Haja Freud!

Um caso final para reflectirmos:
Se duas pessoas decidirem compartilhar espaços e atenção e optarem por viverem juntas, nós seremos capazes de criticar?
Se ao fim de alguns anos uma delas morrer e a casa onde viviam for reclamada pelos seus herdeiros, seremos capazes de apoiar o despejo da que sobreviveu à primeira?
Se os mesmos herdeiros reclamarem todos os pertences, independentemente de saberem ou provarem a quem pertenciam de facto, se ao seu familiar, se à outra pessoa ou se às duas, ficaremos calados?

Ou seremos capazes de defender a existência de uma lei, clara e inequívoca, que determine a possibilidade de celebração de contratos entre duas pessoas, independentemente das suas opções sexuais, dos seus credos religiosos, das suas idades, da cor das suas peles?

Vá lá! Pensem nisto! Afinal... nem precisamos de viver com elas!

sábado, fevereiro 04, 2006

Brinquem... brinquem... mas com cuidado!

A liberdade de expressão é um tema difícil.
Difícil porque se trata do exercício de um dos mais preciosos bens de que dispomos enquanto seres humanos.
E é por isso que me assaltam sentimentos contraditórios quando reflicto sobre os "cartoons" do Profeta Maomé.
Confesso que ainda não tive oportunidade de olhar para eles e "ver claramente visto" o pomo da discórdia.
Confesso também que a curiosidade me roi...
Mas, porque o que importa não é tanto o cartoon em si, mas a intenção por detrás da caricatura, parece-me legítimo usar da minha liberdade de expressão para opinar sobre a matéria.
Como cidadão do mundo entendo que posso observar o mundo inteiro, ter opiniões próprias sobre as realidades observadas e comentá-las com os meus concidadãos.
No entanto, porque acredito que só somos livres, verdadeiramente livres, quando respeitamos os outros, evito a piada gratuita, o comentário inoportuno e tento não ferir susceptibilidades desnecessariamente.
Neste caso, compreendo a atitude do primeiro ministro da Dinamarca, ao afirmar que, no respeito pela liberdade de imprensa, não pode impedir os desenhos sobre o Profeta, mas que lamenta os ataques inusitados (não terão sido exactamente estas as suas palavras, mas a intenção era esta).

Imaginemos que, um qualquer estrangeiro, um pagão qualquer ou um infiel empedernido, se lembrava de fazer "cartoons" difamatórios sobre a virgindade de Maria, a honestidade de Jesus ou qualquer outra coisa de carácter menos abonatório para a nossa fé Cristã...
Já não temos fogueiras em actividade para queimar os hereges... já não dispomos de câmaras de tortura para extorquir confissões aos infieis (não teremos?!), mas vontade não faltaria a muitos.

A virtude dos povos mais tolerantes está na rápida auto-crítica, temperada com a tolerância para com os erros alheios.

Temos tanto tema para cartoons na nossa querida Europa. Até podemos ir mais longe e fazer piadas com os nossos parceiros deste "ocidente cultural". Podemos até brincar com a sacro-santa globalização...
Não é, seguramente, com atitudes destas que poderemos defender o ecumenismo.
Não é por este caminho que ganhamos autoridade nas críticas ao fundamentalismo islâmico.
Não conseguiremos conquistar os povos vizinhos com estas piadas sobre as suas convicções profundas.
Nem tão pouco, ao associar o Profeta Maomé à imagem de uma bomba, provamos ao Islão que conhecemos a sua cultura. Que lemos o Corão e compreendemos que a verdadeira mensagem que está contida nas suas palavras é a mensagem dos grandes livros da Humanidade, ou seja: a mensagem de Paz.

Como diria o "Diácono Remédios": Brinquem, brinquem... mas com cuidado.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

O sabor amargo... no céu da minha boca.


Às vezes pergunto-me que espécie de religiosidade é a minha que oscila de forma ostensiva entre as mais sagradas certezas científicas e as mais absolutas dúvidas místicas...
À medida que os anos passam e, porque inevitavelmente não podemos deixar de ver o circo do mundo, vamos tomando consciência da ideia de morte e procurando, uma a uma, resolver todas as grandes questões filosóficas, como se fossemos o grande escolhido dum qualquer desígnio supra-humano.
Com os anos, vou aprendendo a respeitar os grandes vultos da história da nossa humanidade e, à medida que tento compreendê-los, separá-los da corrosão do tempo e do sedimento que lhes colocam em cima.
Lembro-me de vários autores que afirmavam, umas vezes de forma subtil, outras de forma grotesca, que na hora do momento final, todos se convertem à religião que está mais à mão...
Não tenho dúvidas que nós, seres humanos, como provavelmente outros animais, precisamos de ter fé.
Uns acreditam em Deuses crueis e castigadores, outros acreditam em Deuses super-protectores, outros em Divindades à sua própria imagem e outros em verdades científicas mais ou menos dentro do prazo de validade.
Li há dias um livro muito interessante, de um dos meus autores preferidos, Amin Maalouf, que aborda um tema muito actual, provavelmente sempre actual: A relação entre as várias religiões e a forma como se ligam umas às outras.
O tema é contemporâneo, apesar de a acção se passar há mais de mil anos, na época do início do declínio Romano.
Hoje como ontem o mundo contorce-se em torno de formas de ver o mundo, de perspectivas diferentes sobre a realidade...
Trata-se de um romance histórico, sobre a vida de Mani, que deu origem à expressão "maniqueísmo", mas que, como se pode compreender pela leitura, é absolutamente o oposto do sentido em que usamos hoje este termo.
O termo "maniqueísmo" é usado para ilustrar uma concepção do mundo a preto e branco, uma forma de encarar as coisas, afirmando que ou se está em baixo ou se está em cima, resumindo, onde as coisas têm que ser "bem" ou "mal".
O que mais me impressionou neste livro - Jardins de Luz , Amin Maalouf - para além da forma notável como está escrito e para além do testemunho de uma vida (e de uma morte) em tudo comparável à dos grandes enviados da sabedoria, é o facto de se conseguir encobrir durante séculos uma história tão notável.
Mais ainda... a forma como a "situação" conseguiu distorcer de forma tão grosseira, mas eficaz, a História por detrás da história.
É triste! Como é triste verificar que conhecemos um Cristo, muito provavelmente bem diferente daquele que viveu na Galileia, um Buda distante das suas ideias originais e por aí fora.
Daqui a mil anos que dirão sobre Ghandi?
Que histórias contarão sobre Martin Luther King?
E que saberemos nós, hoje, sobre o que se passa realmente à nossa volta?!
Como poderemos nós fugir a esta grande trama e encontrar os caminhos mais seguros?
Há dias assim... em que acordo e adormeço com um sabor amargo, no céu da minha boca.

domingo, janeiro 22, 2006

Viva a Democracia! Sempre!



Porque mesmos vencidos não teremos que estar convencidos!

Hoje perdemos por uma unha negra... perderam os que acreditaram noutras candidaturas, os que queriam um estilo diferente, mais dialogante, mais interventivo, com mais respeito pelas diferenças, com uma visão menos economicista, e com um pendor mais humanista.

É assim a Democracia. Por um voto se ganha, por um voto se perde.

Hoje, a diferença é de escassos 40.000 votos em milhões de Portugueses.

É uma diferença qb.

É uma diferença esmagadora.

É uma diferença incontornável.

Hoje, depois de saber os resultados eleitorais, brindei à Democracia e à Liberdade.

Brindei ao pluralismo!

Mas não me peçam para estar feliz.

A minha Alma está da cor das bandeiras.

Que o futuro seja mais colorido!

sábado, janeiro 21, 2006

Celebrar Abril




Amanhã, dia 22 de Janeiro de 2006, vamos novamente celebrar Abril!
Aquela Madrugada de 1974 em que um grupo de militares Portugueses deu início à Aventura da Liberdade e da Democracia.
Não importa o candidato que cada um escolha durante o dia das eleições, nem é preciso escolher um candidato! Importa ir votar, dizer: estou presente ; eu também decido!
É costume dos Portugueses criticarem as eleições, alegando custos desnecessários, aproveitando para dizer mal de todos os políticos e, - confirmando a tendência europeia -, faltarem no momento de depositar o boletim de voto.
É um mau costume, felizmente ainda não da maioria, mas um costume de quem critica sem construir, sem aproveitar ao menos o dia de cada eleição como afirmação de cidadania.
É também verdade que a cidadania não se deveria reduzir ao direito do voto. Há imensas maneiras de participar.
Por exemplo, da forma como os Gregos a exerciam, isto é: na Ágora de Atenas, nos santuários dos seus Deuses, nas casas dos Amigos e agora, nas nossas praças públicas, nos adros das igrejas, nos cafés... mas também nos movimentos associativos, culturais ou desportivos e nesta notável forma de comunicação que são os blogs.
Não há Democracia sem direito à discussão, sem partilha de opiniões e sem coragem de escolher!
Como não há Democracia sem respeito pela vontade da maioria, mas também sem respeito pelas minorias.
A Democracia é um espaço de tolerância e de respeito pelos valores da liberdade de expressão e pensamento.
Amanhã, dia de eleições para a Presidência da república eu vou afirmar a Democracia e vou dizer:
Eu voto!

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Que o Tempo não apague...


Estive 7 dias ausente em terras de Espanha (Pela Grande Nação Ibérica), mais precisamente em Tenerife, e, para além daquelas coisas normais quando acontecem as reuniões anuais das grandes empresas multinacionais, tive a oportunidade de viver uma das experiências mais ricas dos meus últimos anos.
Quando a direcção da companhia em que trabalho nos anunciou ter um convidado especial para nos falar de esperança, confiança e determinação (ideias base em qualquer área da nossa existência), entrou pela sala dentro um Amigo de há muitos anos, um colega de trabalho que há 3 anos nos tinha abandonado para o combate da sua vida.
A história conta-se em poucas palavras.
Em Dezembro de 2002, no dia em que esse colega tinha um encontro marcado comigo para discutirmos os "grandes problemas" do nosso dia a dia profissional, telefonou-me a dizer que se atrasaria um pouco porque estava com o corpo cheio de estranhas nódoas negras.
Fizemos o natural discurso recíproco do "isso não é nada!"," claro! Porque é que havia de ser..." e aguardei algo ansioso pelo diagnóstico.
Esse diagnóstico chegou como prognóstico terrível meia hora depois, pela voz da mulher dele.
O meu Amigo entrou em coma, teve um enfarte na sequência da sua rápida degradação física, perdeu sangue... rios de sangue... e, durante uma semana inteira, o mundo de toda a sua família e Amigos viveu à volta da incerteza de uma doença terrível.
Terrível porque súbita! Terrível porque habitualmente demolidora!
Ao Miguel foi-lhe diagnosticada uma leucemia mieloide aguda, que é uma variante rápida e por isso mesmo com prognóstico muito reservado da forma crónica da leucemia.
Recuperou... a consciência. Soube o que tinha e decidiu resistir... resistir sempre. O mais possível.
Bateu no fundo. Muitas vezes! Disse-me há dois dias que viu retirarem-lhe toda a dignidade. E disse-mo sempre com um sorriso. Com um optimismo imenso e uma esperança inabalável.
Não vale a pena falar-vos dos pormenores das quimios, das rádios e de outras intervenções desesperadas... de todos os exames a que teve de ser sujeito durante três anos de resistência.
Vale a pena dizer-vos que o Miguel tem um prazer imenso em estar cá. Que sabe que a própria vida é uma doença fatal, com um desenlace inevitável para qualquer um, mas que vale a pena.
Vale a pena dizer-vos que o Miguel tem um orgulho imenso em saber que hoje corre nas suas veias o sangue dos colegas e Amigos que acorreram ao Hospital para o salvar.
Vale também a pena dizer-vos que o Miguel vive porque tem objectivos concretos. Tem projectos. Vontade de cá estar. Com os filhos. Com a mulher. Com os Amigos.
Vontade de cá estar com ele próprio!
Com ele aprendi, vivenciando, que todas as coisas são importantes... mas que há coisas na vida que deverão estar sempre no topo das nossas prioridades.
Espero que o tempo não me "desensine", esse animal voraz que tudo ilude e tudo apaga.
Com ele aprendi que quando gostamos de cá estar... só devemos é aproveitar!

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Viva o Anarco-liberalismo!!!


Mais cidadãos e menos estado?!

Fala-se hoje insistentemente em diminuir o papel do estado na sociedade, como se esse mesmo estado não fosse o cimento da sociedade.
Aquilo que nos distingue da grande parte dos animais deste desgraçado planeta, é exactamente esta capacidade que temos de construir ou destruir em comum com os nossos semelhantes.
Nos primórdios da Humanidade, gastou-se seguramente muita energia a tentar unir as tribos, a ideia de uma vida em grupo. Perderam-se com toda a certeza muitas cabeças brilhantes, turvadas pela ambição da auto-satisfação em detrimento da felicidade do clã, da família, da raça, ou da espécie Humana.
Há, sobre estes primeiros passos, um pequeno livro absolutamente delicioso que descreve de forma muito interessante este dilema entre o egoísmo humano e o altruismo (que provavelmente não passará também duma espécie de egoísmo – tipo egoísmo iluminado).
O livro chama-se “Porque comi o meu Pai” de LEWIS, Roy e é passado nos momentos históricos da descoberta do fogo.

Mais tarde, (muitos anos, muitos milénios, muitas guerras e muitas mortes mais tarde) - e o livro não chega aqui - descobriu-se a importância da lei e da máquina estatal para a fazer cumprir. Até porque a ideia de propriedade, profundamente enraizada nos nossos genes primitivos ameaçava consumir a espécie se não fosse devidamente enquadrada numa estrutura legal.
Odiado por muitos, o estado e a sua máquina administrativa cumpre um papel social absolutamente vital para a nossa vida na selva actual.
Não sei se é por ser do tipo pouco musculado, mas a sociedade tipo “lei do mais forte” desagrada-me enquanto cidadão.
Preocupa-me imaginar um futuro onde as coisas se tenham de resolver à estalada, ao murro, por via directa ou recorrendo a capangas bem pagos.
Se as coisas como estão têm uma deplorável tendência para funcionar mal, com os tribunais a arrastarem processos por tempos intermináveis, imaginem o que seria os assuntos resolverem-se como no “Far west”.

Agora imaginem que, sem leis, também não houvesse impostos a pagar...

Parece um paraíso... o sonho de qualquer cidadão inconformado com IRS’s, IVA’s, IA’s e IRC’s...

O problema seria quando precisassemos de fazer obra pública.
Teríamos longas e intermináveis discussões para discutir quem pagaria esta ou aquela estrada, esta ou aquela ponte.
Muito provavelmente acabaríamos à estalada e a obra far-se-ia a passar bem ao lado das casas de quem dominasse financeiramente o burgo.

É no meio destes sonhos poéticos, que surge uma nova vaga de anarquistas a que eu chamaria “Anarco-liberais”, com uma exigência absoluta: Menos estado!

Os Anarco-liberais começariam por abolir os pagamentos para a segurança social.
Quem não sabe poupar em novo, não merece uma vida decente em velho!
Quem adoece e não tem dinheiro é porque não soube prever o futuro!
Quem é despedido é porque não gosta de trabalhar!
E imensas pérolas deste tipo...

A sociedade perfeita para um Anarco-liberal é aquela onde o mais forte, ou mais esperto, consegue impor a sua lei.

Temos em Portugal o campo ideal para esta nova ideologia...
Um País em que muitos esperam do estado o empurrão ou o subsídio e em que esses mesmos se tornam exímios na arte de enganar o seu semelhante, fugindo ao fisco, recebendo indevidamente verbas que deviam ser para quem delas mais precisa, faltando ao emprego por doenças inexistentes, extorquindo dinheiro aos seus funcionários, guardando para si os descontos legais... não pagando salários a quem trabalha, etc. Etc.

Acreditem... quando lerem o livro que recomendo, perceberão que nós também comemos o Pai...

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Homem que é Homem...






Há na TV um anúncio da Nissan absolutamente deplorável!

Trata-se de um anúncio a um todo-o-terreno que faz um dos apelos mais patéticos à mais patética ideia de masculinidade.

Homem que é Homem lava a louça, faz a lista das compras, vai às mesmas, arruma a casa, cozinha, etc, etc... ou não...

E depois remata num das frases do mais primitivo apelo machista do início do século passado:

Este é o Todo-o-terreno para os Homens a sério... ou seja (pode ler-se no contexto) aquele que tem tudo feito em casa, que não sabe a cor dos condimentos, que imagina que lavar a louça, fazer as camas, ir às compras são actividades recreativas próprias do sexo feminino ou características de Homens com opções sexuais "duvidosas"...

Pode ser que eu tenha compreendido mal o anúncio...
Pode ser que, por fazer (apesar de pouco - dizem até que de menos) algumas destas actividades, a minha sensibilidade masculina esteja a deteriorar-se.

O que não pode ser é já não haver indignação.

Acreditem! Cá por casa, nem Homens nem Mulheres comprarão Nissans enquanto perdurar a força desta acção de marketing primário.

Só espero... para bem estar das nossa filhas e filhos que os que comprarem os Nissans em questão não se lembrem de partir montados nos mesmos para as novas caçadas do século XXI, atropelando inocentes em vez de ursos pardos e outros animais selvagens.

Já agora... de que serão mesmo capazes estes homens a sério?!

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Muitos dias por estrear...

Como dizia "Quino" através de um dos personagens da sua "Mafalda", um ano novo é um conjunto de dias por estrear...
A ciência está em saber usá-los o melhor possível.
2005 já era... com todos os seus momentos melhores e os piores.

Ao nível dos melhores momentos, destaco um que me pareceu de importância crítica para o futuro de Portugal, que foi a eleição de uma nova maioria no Parlamento, fruto do exercício de um dos poderes mais importantes do presidente da República.
Que não restem dúvidas que se trata de um poder vital para o bom funcionamento da Democracia, que à esquerda e à direita tem tido detractores, consoante o governo a apear seja ou não de sinal contrário.
E foi assim que, em 2005, vi alguns dos que tinham aplaudido a decisão de Mário Soares - em não dar ao parlamento (maioria PS/PRD) a possibilidade de voltar a constituir governo - criticar durissimamente Jorge Sampaio por ter inviabilizado um novo governo PSD/PP e convocado eleições antecipadas, apesar de haver uma maioria parlamentar.
Da mesma forma, vi gente bater palmas, quando muitos anos antes tinha arrancado cabelos por causa da decisão de Soares.
No primeiro momento, os Portugueses estavam alinhados com o sentimento do presidente de que havia necessidade de estabilidade e deram uma maioria absoluta a Cavaco Silva, como no segundo momento, deram maioria absoluta a Sócrates.

Refiro esta questão antes de reflectir sobre as minhas expectativas para 2006, porque me parece que, sob o ponto de vista da vida política, a eleição do Presidente da República será marcante para todo o ano e seguintes.

Para 2006, espero que sejamos capazes de escolher um Presidente com capacidade de isenção, capaz de separar as suas simpatias partidárias do exercício do poder.
Espero também que o nosso futuro presidente saiba estabelecer de forma clara o primado do Homem sobre a economia.
Espero que a economia seja colocada ao serviço dos Portugueses e não o contrário.
Desejo que o nosso futuro Presidente seja capaz de aproximar a lógica do possível daquela que é a lógica dos nossos ideais.

E é por isso que não posso votar em candidatos que se preocupam mais com a saúde da economia do que com o bem estar dos Portugueses, com a saúde de empresas a aumentar o lucro à custa da dispensa dos seus funcionários.
E por isso não votarei Cavaco Silva!

E é por isso que não posso votar em candidatos que estão mais preocupados com o seu umbigo, com as suas "guerras pessoais".
E por isso não votarei Mário Soares!

E é por isso que não posso votar em candidatos mais preocupados em gerir a agenda dos seus partidos!
E por isso não votarei nem Jerónimo de Sousa, nem Francisco Louçã!

Como não votarei em tantos outros candidatos, por melhores e mais apetecíveis que possam ser as suas intenções... porque quero ajudar a eleger um Presidente!

E por isso votarei Manuel Alegre!
Convicto que em muitos pontos divergirei consideravelmente do seu posicionamento.
Mas certo que votarei no respeito pelos Portugueses.
Certo que votarei no candidato mais próximo dos meus ideais Humanistas.

E... já agora... se não for pedir muito para 2006, gastarei algumas uvas passas a desejar que José Socrates não se esqueça do seu referencial ideológico e governe de acordo com os princípios com que foi eleito.

Para todos um Bom ano 2006

terça-feira, dezembro 20, 2005

O desnorte... ou o poder do Papa.


Quando se fala de intenções, normalmente das boas, é verdade que anda o inferno cheio.
Isto, a propósito da vontade do meu partido socialista reconhecer às mulheres a possibilidade de escolherem livremente o direito à maternidade.
O problema é multifactorial e revela um grande desnorte do partido enquanto voz colectiva, imperando as pequenas tendências, habitualmente com enorme capacidade de pressão, impedindo o cumprimento de algumas das promessas mais mediáticas do partido.
Porque o que me parece claro é que por trás da promessa do referendo estava mais do que o referendo propriamente dito, estava a despenalização de uma prática frequente entre as mulheres, normalmente as mais desfavorecidas, que é a prática do aborto.
Nós somos um país irracional... onde se prefere proibir do que regulamentar.
A título de exemplo, vejam-se as placas de limite de velocidade de 10 ou 20 Km/hora que costumamos encontrar em algumas estradas, como se fosse possível transitar a essa velocidade... Veja-se a proibição de uma das práticas mais frequentes como é o caso da prostituíção, a proibição do consumo de drogas... adiante!
A acrescer ao incumprimento da promessa eleitoral, dado que o referendo foi mandado para as malvas, o governo, agora pressionado pela necessidade real da redução de custos, decidiu que as mulheres mais desfavorecidas e que iam aos centros de saúde buscar os seus anticoncepcionais de forma gratuita, só podem a partir de agora ter direito a medicamentos da velha guarda. Nem pílulas recentes, nem adesivos, nem aneis.
Querem controlar a natalidade?! Pratiquem abstinência, porque parece que o sexo passa a ser um direito de quem tem dinheiro!
Consta que a par disto se pretende cortar a comparticipação a todos os anticoncepcionais fora do âmbito dos centros de saúde.
Moral da história: Nem despenalização, com a possibilidade de, em casos controlados, se poder realizar abortos em instituíções hospitalares, nem a prevenção da gravidez indesejada.
Há sempre um caminho. Manter a situação actual com vantagens claras para quem tem poder económico, que pode optar por fazer cá, sem problemas de maior, o que sendo ilegal é sempre possível, ou fazendo lá fora, onde já é legal, mas precisando ainda de mais do tal vil metal que uns, como sempre, têm mais que outros.
Com este medida, não se agitam demasiado as águas e não se provoca mal estar na igreja e nos lobbys que trabalham no interior do PS.

Nesta, como noutras coisas, importa encontrar o Norte e agir de acordo com as ideias que temos e anunciamos.
Normalmente, a gestão de vão de escada empurra os países exactamente para o local indicado, o vão de escada.
Termino com duas perguntas: Porque nos preocupamos tanto em aumentar a natalidade?
Os países mais desenvolvidos da Europa não serão precisamente os que têm uma pirâmide de idades mais envelhecida?

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Portugaia/Portogaia










Ancestralmente separadas por um acidente geográfico, o rio , historicamente unidas pelo destino comum em torno do Douro, Porto e Gaia são sem dúvida feitas de idêntico e complementar tecido. Ambas tiraram partido do que o rio lhes permitia, com o correr dos tempos tornaram-se as duas nos entrepostos comerciais para os produtos oriundos de toda a área de Ribadouro, que seguiam por mar para os principais centros portuários europeus, nomeadamente da Grã-Bretanha e da Flandres, partilhando também as últimas tarefas que aprontavam o Vinho Fino, antes que este fosse degustado pelos palátos abastados de todo o mundo, sob o britânico nome de Port wine.
Foram-se os tempos das fainas fluviais, mas ainda assim souberam as duas margens aproveitar esta era de lazer e de turismo, também aí com a predestinada complementaridade. O mesmo turista que visita a Sé estará de seguida a olhar o rio e a magnífica paisagem tripeira , do alto da escarpa do Mosteiro da serra do Pilar. Depois claro , uma alegre visita às caves de Gaia onde mora o precioso néctar. Finalmente, para conhecer melhor a História do vinho que acabou de provar e comprar, volta ao lado de cá e percorre o museu do Vinho do Porto, ali em Monchique, entre a alfândega e Massarelos. Também as Ribeiras de ambas margens são hoje exemplo de espaço conjunto de convívio, onde milhares de habitantes e turistas se cruzam para beber um copo disfrutando das tardes de sol ou de um fim de dia envolto em neblinas densas de mistério e romance. Na mágica noitada de São João é aqui que hoje tem lugar o auje da festa, comungando as duas margens da benção do mesmo santo e das mesmas loucuras.
Actualmente, na sequência da pequena grande revolução que constituiu a entrada em funcionamento da primeira fase da rede de metro de Região Metropolitana do Porto, creio que já todos nos apercebemos de como é pequena esta nossa cidade. Por outro lado a facilidade com que hoje percorremos de metro ambos os centros urbanos traz-me à memória recordações de como era difícil há cinco décadas alcançar a outra margem. Se não vejamos, nesses tempos era com o credo na boca que o passageiro do caminho de ferro testemunhava a travessia do Douro, com a ponte Dona Maria cheia de tremuras perante a investida da composição a uns cinco Km/hora. Suprema angústia, com rezas à mistura, acto reservado a meia dúzia de bravos...os outros iam de eléctrico ou por outro qualquer meio apanhar o combóio às Devesas, em Gaia. Na ponte D. Luís era o caos onde carros eléctricos, camionetas de carga e de passageiros, automóveis e motorizadas disputavam, nos dois tabuleiros, a supremacia em relação a peões, carrejões de carga à cabeça, bicicletas e carroças de tracção animal, enfim, um formigueiro e uma fumarada. Era tão difícil esta travessia que o então provinciano FCP cada vez que tinha que a efctuar por obediência ao calendário desportivo, era certo e sabido que na volta trazia uma derrota!!!...quando muito um empatezinho .
Como os tempos são outros hoje, agora são seis as pontes que nos unem (não contando com a Dª. Maria, ainda - até quando? - desactivada) e se o governo central der autorização, em breve o metro precisará de outra para atravessar o rio na zona da Arrábida, numa ligação mais do que necessária, urgente. Não me refiro aqui ao TGB, dado estar ainda tão fulo com o governo central, que prefiro ir a esse assunto mais tarde... Não é de espantar portanto, que dentro de vinte ou vinte e cinco anos tenhamos que contar mais de uma dúzia de pontes a ligar as margens Norte e Sul da cidade de Portogaia ou de Portugaia, sem dúvida a maior urbe do Noroeste peninsular , ou Portogalícia, como preferirem.
A ideia não é nova, mas é inovadora e.... o Futuro está aí já.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

...e o Pai Natal?! Alguém sabe do Pai Natal?!


O camarada Jerónimo de Sousa disse hoje que vetaria qualquer proposta de legalização da prostituíção que o parlamento tentasse viabilizar...
Tou Pasmo!
Então que faremos nós às camaradas trabalhadoras do sexo?!
Cadeia com elas?
Ou então, como alternativa... uma venda nos olhos da polícia?
E os clientes?! Meu Deus que faremos nós com os frequentadores dos favores das prostitutas?
Metemos na cadeia uma grande parte dos homens de meia idade deste país?
E os jovens?... Que faremos nós aos jovens frequentadores dos bordeis?
Sugiro desde já ao camarada Jerónimo um daqueles belos momentos de auto-crítica no partido, tipo: quem explorou as camaradas prostitutas que suba ao patíbulo e aguarde pelo castigo. (que deve ser ter que gramar com Jerónimo a presidente).
Claro está que o camarada Jerónimo só vetaria se fosse eleito presidente da república, hipótese que me parece francamente remota.
Esta campanha tem alguns momentos dignos de nota. Esta revelação do camarada Jerónimo é uma pérola. Pela primeira vez, o partido opõe-se a um conjunto expressivo de trabalhadores.
Com efeito, não podemos esquecer que estamos a falar da mais velha profissão do mundo.
Uma profissão em que, como em muitas outras, se vende o corpo. Mas que em Portugal não é legal e, portanto, não dá direito a segurança social nem implica o dever de pagar impostos.
Somos um país estranho... de falsos moralismos. Com leis fantásticas que ninguém cumpre.
Gostaria de perguntar ao camarada Jerónimo se conhece algum país que tenha acabado com a prostituíção por decreto.
Se ele gosta de ver na rua, à volta da fogueira, as meninas (??!!) gordas, velhas, feias do contentamento do nosso Portugal profundo.
Provavelmente, por termos uma lei que proibe a prostituíção, o camarada Jerónimo acredita que são caminhantes para Fátima a retemperar energias.
É isto que me entristece no camarada Jerónimo: às vezes parece que vive num filme italiano do pós-fascismo... mas numa cópia VHS em muito mal estado.
Lembro ao partido comunista que a prostituíção é efectivamente um flagelo social que é transversal a todos os regimes políticos, a todo o tipo de sociedades ditas mais avançadas, que toca em gentes dos mais variados credos.
Esteve presente nas mais antigas civilizações do mundo, na idade média, na era moderna, nos capitalismos de estado do leste europeu, na china de Mao e, naturalmente, na decrépita sociedade Americana.
E na nossa sociedade Europeia... só não vê quem não quer!
Ainda bem que o camarada Jerónimo de Sousa se encarregou de nos lembrar que a prostituíção é proíbida em Portugal. Se não fosse ele qualquer dia tínhamos meninas a vender o corpo na beira da estrada, em hoteis de luxo e espeluncas de frequência duvidosa. Teríamos bares com prostitutas a prometerem sexo por duas de treta e anúncios no jornal a prometer o céu na terra...
Já agora, camarada Jerónimo: O Pai Natal não existe!

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Os candidatos pobres - ou a pobre Democracia





Afinal havia outros...

E se é verdade que destes, nem todos conseguirão as assinaturas necessárias (alguns nem tentaram), que eu saiba há pelo menos um que já é formalmente candidato.
Da esquerda para a direita (sem leitura ideológica), temos:

José Maria Martins
António Lança de Carvalho
Garcia Pereira
Luís Botelho Ribeiro
Luís Filipe Guerra
Manuel Vieira
Manuela Magno
Nelson Magalhães
Mário Nogueira
Gonçalo da Câmara Pereira
Carmelinda Pereira


e, para além destes, que as notícias da net me deixaram descobrir, ainda houve mais três cidadãos que anunciaram poder vir a ser candidatos:

Menezes Alves (o eterno Soarista que agora pediu para se filiar no PS), José Ferraz Teixeira e Maria Teresa Lameiro.

A profusão de candidaturas é, em si mesma, uma prova de que ainda há cidadãos que vêem a vida política para além dos partidos (e que o afirmam à distância dos mesmos).
Como é evidente, para mim que estou partidariamente comprometido, seria impossível afirmar que uma militância é incompatível com uma candidatura às presidenciais, mas não posso, apesar disso, não reconhecer a importância deste tipo de candidaturas.
São uma espécie de pedradas no charco.

Pela minha parte vou tentar saber mais sobre alguns deles (porque um ou outro já os conheço de outros carnavais...)

www.lancadecarvalho.homestead.com
www.movimentohumanista.com/luisfilipe/
www.nelson-magalhaes.com
www.botelhoribeiro.org
www.josemariamartins.com
www.manuelamagno.com.pt
www.vieira2006.com/
www.garciapereira-presidenciais2006.net
www.recuperarportugal.org
www.pous4.no.sapo.pt/presid.html

Uma última nota: em 19 candidaturas anunciadas, apenas 3 são no feminino.
A mim, que tenho o orgulho de ter apoiado uma das grandes mulheres da política, Maria de Lurdes Pintasilgo, faz-me ter pena deste país.
Acredito que este é um tema para grande reflexão e que não passa, seguramente, pelas quotas mínimas.





quinta-feira, dezembro 08, 2005

vamos lá começar pelo fim

Vale sempre a pena ter um norte ,sobretudo quando ao longo da história fomos sempre fazendo das tripas coração a troco de uma identidade progressivamente centralizadora e que , apesar de décadas de democracia(???) , decididamente aposta hoje em sufocar de vez uma grande região donde «Houve nome Portugal»...
Ter um norte é não perder de vista donde vimos, quem somos e o que queremos . Povo que ancestralmente viveu e conviveu desde o cabo Finisterra até às terras de Santa Maria , irmanados pelas agruras de um clima agreste , tenazmente defendendo o que é nosso , sem esperar por mais do que ter saúde para enfrentar o desafio de viver. Falamos desde há longos séculos uma língua com muitos Bês e poucos Vês e isso demonstra apenas a fidelidade às nossas raízes. Deste Galaico-Duriense derivou mais tarde a Língua Oficial Portuguesa , interessante não ?
O Norte portanto ,asfixiado pelo tal centralismo , atravessa hoje a sua mais profunda crise das últimas quatro ou cinco décadas , deve no meu entender desprender-se da vã esperança de soluções oriundas do seu exterior físico e voltar a pensar em si mesmo como unidade sócio-cultural e económica capaz de encontrar solução para a sua doença mortal , o centralismo . Ora como os nossos irmãos galegos têm também um longo historial com um diagnóstico idêntico ,um pouco atenuado pelo ainda recente estatuto autonómico ,talvez se possa encontrar resposta nessa comunhão de interesses e cultura que é o Noroeste Peninsular ou melhor , a Portogalícia.
Caros nortenhos deixem de uma vez por todas de criticar Lisboa ,a gente sabe bem do que ela sofre , avidez crónica dos nossos impostos , deixem lá o sul para ir de férias na páscoa ,tem um clima porreiro e é quase tão barato como Marrocos..
Nada esperem também do rebanho partidocrata , contaminado até ao nível local pela brucelose centralista,nada lhes pode valer . Só um forte movimento de opinião poderá gerar as sinergias suficentes , bem como as lideranças urgentes . Perante o estado a que nos fizeram chegar , em breve ambas surgirão.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

UM Tê Gê Bê pra quê?






Sr. Primeiro Ministro,

Tenha juízo!
Mas porque carga de águas precisa V.Exa. de um TêGêVê?

Ocorre-me que seja por uma questão iberista, ou seja, por uma vontade profunda de escoar os Lisboetas e seus vizinhos nacionais para o Aeroporto de Barajas em Madrid. O que até que nem está mal visto!
Os nuestros hermanos agradecem.

Mas então... e desculpe-me se estou confuso... para que precisamos de um novo aeroporto!?

Pode ser que nunca tenha reparado, mas cá pró Norte temos um aeroporto novinho, cheio de betão fresquinho, acabadinho de estrear e desejoso de receber aviões de todo o mundo.
E até parece que muitos dos passageiros dos aviões que aterram na Portela querem mesmo é vir para o Norte... dizem!...

Eu sei que não costuma fazer escalas técnicas no Porto, mas nós estamos habituados a visitar o aeroporto de Lisboa cada vez que queremos ir mais para Norte. Deve ser para poupar combustível...

Mas não! Não pense que estou com este discurso todo, só porque não vamos ter um TêGê!
Não quero!!! Aliás... não preciso!

Um TêGê do Porto para Lisboa?! Tenha dó!
Se quisermos apanhar aviões baratos vamos a Vigo que sempre vamos a outro aeroporto da nossa terra.
E depois, não acha que menos de três horas para chegar a Lisboa (e outras tantas para voltar que a gente gosta de dormir em casa) já é um tempinho simpático?
Presumo que o meu caro 1º Ministro ainda se lembre que temos um "Pendular".
É giro, rápido, limpinho, dá para escrever umas coisas enquanto viajamos, tem 1ª e 2ª classe e há mais que um por dia.

Tem ideia de quanto tempo pouparíamos com esse tal de TêGê?
É que os minutos de diferença que conseguiríamos provavelmente davam um custo por viagem ao nível dos preços do Concorde e olhe que esse finou-se por causa das "manias das poupanças".

Sr. 1º Ministro, não inbente!

Se por acaso lhe sobrarem uns troquitos do orçamento, lembre-se dos que ainda acreditam que valeu a pena ter votado em si... distribua pelos reformados, pelos que ganham o ordenado mínimo, não descomparticipe medicamentos que fazem falta a quem os toma, não deixe de subsidiar os anticoncepcionais e tantas outras coisas que eu sei que tem na sua agenda, no cantinho dos pendentes, mas que, provavelmente, não tem tido tempo de tratar por andar às voltas no seu TêGêVê e amargurado com as vozes descontentes com a tal da OTA.

Desculpe lá o discurso amargo... mas é que eu ainda acredito! Já não percebo é nada disto!

domingo, dezembro 04, 2005

Um Blog partilhado



A partir de ontem este blog passou a ser partilhado entre mim e um Amigo de longa data e de experiências comuns.
Como tudo o que fazemos com os outros, tem a vantagem de não ter apenas uma perspectiva, o que equivale a dizer que contém em si a possibilidade de poder afirmar e negar dentro do mesmo espaço.

Obrigado José Rocha por aceitares este repto. Agora só falta começar a escrever e a comentar...