quarta-feira, junho 28, 2006

A "bolização"... ou a aldeia global entre balizas...


Hoje decidi escrever um pequeno texto sobre um tema que tenho tentado evitar... o futebol.
Por um lado, porque se trata do tema de todos os dias, do assunto de todas as conversas e do Amor de muitas paixões.

Por outro lado, porque avizinhando-se aquele que poderá ser o primeiro dos grandes jogos da selecção no Mundial da Alemanha, me apetece deixar escrito o que me vai na alma nesta fase.

Nunca escondi que não gosto do Scolari. E não gosto porque preferia ver um Português a treinar a selecção Nacional e, de preferência, um seleccionador que não tivesse escolhido o Norte do País como bode expiatório das culpas nacionais.
Não gosto das certezas absolutas do Filipão nem de ninguém em geral.
Apesar de tudo, confesso que o que mais me incomoda é reconhecer que o homem às vezes me parece bem mais Português que o vulgar cidadão tipo.

Mas... e independentemente do resultado de Sábado próximo, reconheço que este homem sabe liderar a sua equipa que, por feliz acaso, até é também a minha!
Na equipa de Portugal sente-se o espírito que antecede as grandes vitórias.
Sente-se a capacidade de sacrifício, bem patente na batalha de Nuremberga.

Reconheço, como dizia um Amigo meu, que no último jogo jogámos apenas 22 minutos e, depois, nos limitámos a defender a magra vantagem.
É verdade! Mas defendemos essa vantagem com todas as energias que tínhamos.
Resistimos a todas as adversidades. E, felizmente, o azar dos adversários esteve do nosso lado, bem como as traves e barras da baliza.
É verdade! Até parece que os deuses estavam connosco... sem exuberâncias... timidamente e com medo de anunciar ao mundo a sua preocupação por este pequeno país que poucos sabem ao menos onde fica.

E é por isso... que neste próximo sábado, quando vestir mais uma vez a camisola da nossa selecção e colocar ao pescoço o único cachecol vermelho que aceito usar quando vejo jogos de futebol... espero que os deuses se lembrem dos protegidos de ontem e nos deixem continuar a sonhar!

É que por acaso até merecemos ir bem mais longe!

E dá um gozo imenso ver os Lordes de Inglaterra tão preocupados com este pequeno David...

quinta-feira, junho 15, 2006

A Justiça é cega


O que mais me incomoda nesta nossa sociedade... é o "non sense".
É o tipo de coisa que só tem graça em certas áreas da nossa vida, digamos que... mais recreativas.
Mas, principalmente em áreas onde deveria imperar uma certa lógica, uma forma de estar que protegesse o cidadão, preocupa-me de sobremaneira.
Como já referi por várias vezes, este ano tive alguns contactos com a justiça, quer como testemunha em processos alheios, quer como queixoso num outro processo.
No último caso, levei à barra do tribunal os vizinhos do lado por razões de má vizinhança, que, entre muitos outros assuntos, incluiam danos materiais provocados na minha casa.
O caso até que não correu mal, tendo conseguido um julgamento em tempo record, isto é, ao fim de dois anos.
Como tínhamos sido vítimas de agressão (quebra de vidros no meu terraço) houve lugar a dois processos: um processo crime (com pedido de indeminização por danos materiais) e outro cível (para reclamar indeminização por danos morais).
Ganhámos os dois!
A Juíza decidiu.
Está decidido!
No caso do processo crime, a ré foi condenada e terá que nos pagar os 140 € dos vidros quebrados, tendo ficado com o registo criminal preenchido com a condenação. Para além disso pagará uma multa ao tribunal e as custas do processo crime.
Menos mal! (Principalmente se tivermos em linha de conta que, mesmo quando manifestada a intenção de lhe perdoarmos, se dispunha a pagar os 140 € em 14 prestações mensais)!!!
O problema... vai ser receber os tais euritos!.
Quanto ao processo cível, o tal do pedido de indeminização por danos morais (pedíamos 5.000 € - que vos posso garantir que nunca pagariam os traumas provocados pelos maus vizinhos), uma vez que ficou provada a culpa da ré e que a agressão em questão não era um caso isolado bem como que, para além dos seus maus instintos, ainda tinha a desgraça de não ter muitos rendimentos... a juíza, senhora bondosa e compreensiva... determinou que 5.000 € se tratava de um exagero e condenou a ré ao pagamento de cerca de 200 €.
Ficaria para a história e para a melhoria do ambiente na rua, a condenação dupla, o cadastro para a meliante e a multa, custas e indeminizações aos queixosos!!!
Até que nem me pareceu mal!
O problema é que até à data ainda não vi a cor do dinheiro e falta-me pagar à minha advogada (sendo certo que sei de antemão que a conta superará os proveitos).
Parece-vos mal?!
Ficam estupefactos?
Acham isto completamentamente inusitado???!!!!
Então que dizer quando recebi em casa a conta das custas do processo cível?
Ora bolas para a justiça!
Os ministros da mesma, os juízes mentecaptos, os advogados cooperantes, os oficiais diligentes, os réus criminosos e os inocentes e os queixosos que, como eu, ainda acreditam... Que vão todos para o raio que os parta!
É que eu acabo de pagar 240 € de custas de um processo que ganhei e no qual me foi atribuída uma indeminização de 200 €, porque a bondosa da juíza entendeu que a pobre ré, sendo uma refinada bandida não deixa de ser pobre e, por essa razão, os queixosos que paguem a crise!
Já só nos faltava esta!
Ao menos a justiça podia aprender braille... sempre ia podendo acompanhar os processos e julgar com juízo e bom senso!
Não vos parece?!
Já agora... como não podia deixar de ser... ainda não recebi nada, mas já paguei as custas. Não vá um juíz qualquer acordar mal disposto!
Ainda pensei meter a juíza em tribunal... mas como o processo ia acabar por ser julgado por um colega dela... achei melhor estar quietinho... ou não fosse acabar por levar no focinho!

terça-feira, junho 06, 2006

As fogueiras do nosso conhecimento...

Não há pior caos do que o acumular de conhecimentos...
Isto a propósito de uma das minhas mais antigas angústias existenciais, que se desencadeia, invariavelmente, todas as vezes que visito a feira do livro.
Não por ser a feira do livro do Porto, específicamente, mas por se tratar de um espaço carregado de milhares de livros por ler.
E... sei bem que todos esses livros são uma pequena gota de água em tudo o que está publicado no mundo.
A angústia deriva da enorme frustração de eu saber que nunca, nem em mil vidas, conseguirei ler tais livros, nem mesmo os autores todos.
Sei bem que se trata de uma tarefa impossível a qualquer um. Sei bem que o acumular de conhecimentos, esse conhecimento de tudo, não se traduz, necessariamente, em sabedoria.
Porque um sábio não é quem conhece... é quem sabe usar os seus conhecimentos, por menores que sejam.
Mas, que querem... fico com pena.
Lembro-me sempre de um professor de cosmologia que nos dizia que, por sabermos de antemão que nunca leríamos todos os livros que valem a pena, não deveríamos perder tempo com livros sem a capacidade de nos "agarrarem".
E, por causa dele, tenho deixado por ler alguns livros que, pelo menos em certos momentos, me parecem mais enfadonhos.
E às vezes, com a curiosidade de algumas palavras que apenas "bateram" no subconsciente, lá volto a eles à procura de uma possível reconciliação.
E, quando calha, ela lá acontece.
Mas voltando ao caos do excesso de informação... e da nossa incapacidade enquanto vulgares "Homo sapiens sapiens" de poder ler tudo, tremo de pensar que outros, talvez mais angustiados do que eu possam lembrar-se um dia do fim das "bibliotecas de Alexandria" da nossa humanidade.
Os livros... são a pior das ameaças para a intolerância e para o humanismo. E é, provavelmente por isso também, que os tiranos se esforçam por dar largas aos mais primitivos instintos pirómanos.
Eu, que uso o computador com algum desenbaraço e entusiasmo, continuo a preferir o papel para as minhas leituras...
Mas reconheço, com medo e tristeza, que sendo os livros mais resistentes aos "bugs" de qualquer Windows mal humorado, ou aos vírus de alguém menos bem intencionado, não resitem facilmente ao bicho do papel nem às chamas do obscurantismo.
Os livros são por isso... o espelho mais real das nossas civilizações... tangíveis, mas frágeis.
E... talvez por isso... porque nos pedem colo e se acomodam nas nossas mãos... continuo apaixonado.